18 de novembro de 2015

Relatos de uma viagem à China
Macau: a China portuguesa

A China é uma nação com muitas faces. Em Macau, os templos budistas contrastam com a arquitectura colonial, come-se dim-sum mas também pastéis de bacalhau, a toponímia das ruas aparece em cantonês e português
Um pormenor interessante em relação a estas placas; nem sempre os caracteres chineses correspondem ao nome português das artérias. A Rua do Padre António, por exemplo, significaria Rua dos Edifícios Altos, caso a tradução fosse literal. Possivelmente, o Padre António não é muito famoso entre os macaenses do Século XXI.
Foi tão estranho como encantador voltar a ouvir a língua de Camões, depois de uma semana a falar apenas mandarim e inglês. É como um regresso a casa, a minha pátria é a minha língua, já cantava o Pessoa. O meu guia, Chen Chang, é natural de Pequim mas conhece a cidade como a palma das suas mãos e fala um português maravilhoso, com um leve sotaque angolano e algumas expressões brasileiras misturadas no discurso (estudou em Portugal, trabalhou no Brasil e em Angola).
Começamos na zona da Barra, no templo de A-Má, a deusa protectora dos pescadores, um lugar de fé antiquíssimo, anterior à chegada dos primeiros navegadores portugueses. Admite-se que o nome de Macau esteja relacionado com este templo, que fica em A-MA-GAO, “a Baía de A-Má”. O incenso impregna o ar, enquanto os fiéis queimam incenso perante imagens taoistas e budistas. Sim, duas fés partilham pacificamente o mesmo espaço, uma lição ecuménica que muitas religiões deviam imitar.
Chen Chang conduziu-me depois ao centro histórico, classificado como Património da Humanidade em 2005. “Entre templos chineses, igrejas católicas, edifícios antigos, como o do Leal Senado, e fortalezas como o Quartel dos Mouros, a Fortaleza do Monte ou a Fortaleza da Guia, em redor da qual estavam situados alguns dos principais pontos de defesa da cidade, a história de Macau é revisitada e deixa à vista a evolução da cidade e convivência das culturas”, escreveu o Público por altura da nomeação.
De facto, a governação portuguesa, que durou mais de quatro séculos, deixou marcas indeléveis nesta cidade. Os restaurantes têm garfos nas mesas, a calçada portuguesa cobre muitos passeios, as igrejas multiplicam-se, com os seus vitrais e anjos de marfim. Nesta manhã de domingo, ouvimos os cânticos da missa que se celebrava na Igreja de Sto. Agostinho, ao lado do singelo Teatro D. Pedro V.
Depois de uma chuvada, que nos obrigou a uma pausa na tranquila Biblioteca Sir Robert Ho Tung – uma preciosidade para os investigadores sobre a presença católica no Oriente – o calor regressou em força, enquanto descíamos a Av. Almeida Ribeiro, para visitarmos o edifício do governo antes da transferência de soberania, eterna residência dos bustos de Luís de Camões e de João de Deus.
As ruas estavam apinhadas de turistas, sobretudo chineses, e foi a passo de caracol que prosseguimos para o altar da cidade: as ruínas de S. Paulo. A fachada é tudo o que resta deste reduto jesuíta mas, ainda assim, é uma testemunha histórica admirável, umas das sete maravilhas portuguesas no mundo.

A economia do jogo
Atravessada a ponte para a ilha de Taipa, um novo mundo abriu-se perante os meus olhos: o mundo da jogatina, que garante a economia de Macau. Os cerca de 50 casinos já bateram as receitas de Las Vegas, a ponto do governo chinês estar a limitar os vistos aos seus cidadãos, que ali perdem fortunas.
Evidentemente, a primeira paragem foi no casino Grand Lisboa, o primeiro a ser construído na “Las Vegas do Oriente”. Em frente ao edifício original, ergue-se outro Grand Lisboa, maior e mais imponente, cuja forma evoca uma espada sobre uma maçã, fruta que, pela sua fonética, tem um significado muito positivo para os chineses.
Outros grandes espaços de jogo e compras são o Hard Rock, Sands Cotai, MGM, Galaxy ou... o Venetian, cujo rosto milionário é o David Beckham! Tal como o seu irmão americano, a decoração do casino remete para Veneza, com canais repletos de gôndolas e um tecto que imita o céu num dia eterno o que, somado à ausência de relógios, nos faz perder a noção do tempo. O objectivo é gastar, gastar, gastar no hotel, nas lojas, nas mesas de jogo.
Mas eu, que tenho que voltar a Zhuhai, não posso alhear-me dos ponteiros e (cedo demais) é hora de regressar.
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Ruthia Portelinha

19/11/2015
 

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