11 de maio de 2016

Antonieta Garcia
À GAZETA DO INTERIOR

Festeja os anos com força primaveril. Os padrinhos, gente de bom gosto e comedida, seguiu a antiga tradição portuguesa e batizaram-na. É Gazeta do Interior, a sua graça.
Hoje brindo à menina que tem sido, a meu ver, bem comportada. Veio a lume e tem vivido em tempos interessantes, como diriam os chineses. E gaiata foi escolhendo o rumo que é o seu. Ser independente, claro, era objetivo incontornável! Mas não é fácil ser virgem de opinião. Por isso, alguns acham-na desmedida, outros qualificam-na de ingénua, para a maioria tem números e dias. Mas não se cala. Senhora da palavra informa a seu gosto e a gosto, ou desgosto dos que a leem.
Ainda usa cartão jovem e fica-lhe bem o nervo, o rasgo. Não se coíbe, por isso, de desafiar criaturas de bom e mau feitio para danças de salão. No baile, nem todas aguentam o tango argentino que requer requebros que vão muito além do bê-á-bá do acertar o passo. Poucas se dão com o rock, demasiado extrovertido; outras aceitam o slow e a bossa nova ou o chachachá, cadências mais consentâneas com atitudes de velhas glórias. Já o hip-hop & Companhia desengonçam quem tem mais de vinte anos, mas não lhe resistem os irreverentes; abanar o capacete e marcar o compasso com o pezinho… é procedimento formal que abraçam muitos ex e atuais dançarinos.
Porém, não tenhamos dúvidas: a Gazeta decide qual é a música. Na festa de aniversário, desde o fato de gala, ao hippy chique, passando pelos conservadores saia-casaco, fatos escuros e engravatados, em jeito de boa entendedora, se for necessário, dá uma voltinha ao disco/texto, recebe todos e não há notícia que passe ao lado. Sem sensacionalismos, noticia, analisa, comenta, critica ou aplaude, sempre empenhada no desenvolvimento da região, do país.
Sabe que o mundo não é a preto e branco e escuta pareceres sem deixar ninguém que valha a pena fora do painel.
Menina ainda, sem artroses e com o colesterol controlado, mexe-se bem e afasta-se de discursos oleosos e pontudos. Gosto de a ver de palavra em riste a por nos eixos: saltitões que acertam no vira-que-vira batido; aluados puro-sangue que levantaram voo e não descem ao jardim real; desistentes, doentes de indiferença, que não querem ver mais do que a horta ou as rosas do seu quintal; malfeitores que apostam no quanto pior melhor; corruptos que comem tudo e não deixam nada; vândalos que destroem tudo o que podem…
A Gazeta já escolheu o lugar onde quer viver. E numa época em que acabamos por não nos espantarmos com nada, vai-se enamorando, namoriscando estórias deste microcosmos onde é possível semear amizade no campo da vida e vê-la germinar. Outro dia, numa aldeia, o frio a manter-se duro em abril adiantado, conversava com uma senhora, no “café/venda” que é mercearia, lugar de convívio e tudo o mais; pedi um chá quente. - Pode ser de limão!
- Que bom! Quanto devo?
- Então eu ia levar dinheiro por uma pinguita de água?
- E os limões? - pergunto.
Aponta para o limoeiro e explica: Olhe além, tantos! Até caem ao tronco!
Cabeça direita, olhar atento, a surpresa veio na voz desta senhora igual a tantas que a Gazeta também conhece. Das que falam com franqueza, e têm todo o tempo do mundo para ouvir e tagarelar. Não sabem nada de S.M.S., nem de computadores, ou écrans que não sejam os da tevê; nunca ouviram falar de emoticons… mas as palavras são suficientes. Contam tão bem as coisas…
Não sei que poção de sabedoria absorve alguma gente destes sítios, mas percebo que privilegiam uma filosofia de vida que autores clássicos louvariam. E a Gazeta também.
Na região, no interior, esta jovem vai curando amnésias esticando a voz que, se nem sempre chega aos céus, muitas vezes incomoda, inquieta.
Resumindo, com Eça de Queirós diríamos que a menina Gazeta “não tem a voz grossa da política, nem a voz indolente do poeta, nem a voz doutoral do crítico…”. Mas atina, quase sempre com o que quer.
Ao leme das palavras, usa terapias de cigarra; a formiga é muito troikiana, anda pelas ruas da amargura, exige austeridade para castigar os preguiçosos que não rendem o suficiente para comer, quanto mais para permitir a entrada a mais alguns nos papéis do Panamá… A formiga da fábula passou a anti-heroína. É com o canto da cigarra de voz afinada e criativa que encontramos a cura para o mal da alma, para dizermos o amor e a mágoa, para desvelarmos verdades cruas e fanfarronices que empestam.
Menina Gazeta do Interior ouça: faça o favor de aconselhar as donas formigas intoxicadas pelo vício de criticar quem canta, a inverter o rumo da carreira! Fazia-lhes bem: o fígado agradecia, a cabecita folgava, a acidez emigrava…
Às boas palavras da Gazeta, brindemos!

11/05/2016
 

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