15 de fevereiro de 2017

COM TEXTOS DE GONÇALO SALVADO E DESENHOS DE JOÃO CUTILEIRO
O Cântico dos Cânticos é apresentado em livro e em exposição

Goncalo SalvadoCântico dos Cânticos é o título do livro, mas também de uma exposição, que são apresentados sexta-feira, a partir das 18 horas, na Biblioteca Municipal de Castelo Branco.
Cântico dos Cânticos é um livro de poesia com edição bilingue Português/Hebraico de Gonçalo Salvado com desenhos do escultor João Cutileiro e que é apresentado por Maria João Fernandes, que é a autora do prefácio.
A obra foi integralmente traduzida para o hebraico por Francisco A. B. Costa Reis, com revisão do texto por Yotvat Gluk e é enriquecida com grafismos a partir do alfabeto hebraico de Ambrósio Ferreira, que a  ilustram.
Na mesma ocasião é também inaugurada a exposição Cântico dos Cânticos, que pode ser visitada até dia 17 de março. Trata-se de uma mostra bibliográfica sobre o Cântico dos Cânticos, sendo a primeira realizada em Portugal, e é constituída por obras pertencentes à coleção de Gonçalo Salvado sobre esta temática, na qual se privilegiaram as obras em Língua Portuguesa editadas em Portugal e no Brasil.
Sobre a obra, Maria João Fernandes escreve no prefácio que “no esplendor intraduzível das suas metáforas, Gonçalo Salvado preserva na moderna poesia portuguesa a grande tradição do amor, na esteira cintilante do Cântico dos Cânticos, motivo condutor da sua obra, ela própria no seu conjunto um verdadeiro e novo Cântico dos Cânticos”.
A apresentação do livro e a inauguração da exposição conta com um momento musical, no qual se assistirá à interpretação inédita em português da partitura Dois coros do Cântico dos Cânticos de Salomão, de Fernando Lopes Graça, em colaboração com a Escola Superior de Artes Aplicadas (ESART) de Castelo Branco, bem como à leitura de excertos do Cântico dos Cânticos e de poemas de Gonçalo Salvado.

O Cântico dos Cânticos
visto por Gonçalo Salvado
“O Cântico dos Cânticos, celebrado poema de amor, legado pelo Antigo Testamento, atribuído pela tradição bíblica a Salomão, datado por investigadores entre os séculos VIII e VI a.C. (período do florescimento da literatura amorosa do Egito) e no registo escrito entre o século VI e IV a.C., tem vindo a inspirar todas as expressões da arte, desde há vários séculos, na literatura, nas artes plásticas, na dança, na música e no cinema.
A presente exposição bibliográfica, a primeira que lhe é dedicada em Portugal evidencia a sua extraordinária presença no nosso País. Presença documentada na atual mostra desde o Século XVIII, quer no plano das versões e traduções, quer na poesia, no teatro e no ensaio, até aos nossos dias. A vastíssima iconografia, com expressão privilegiada em Portugal, onde no século XVII e XVIII é um caso único na Europa está representada pela escultura em bronze Sulamite (1909) da Terceira Duquesa de Palmela, Maria Luísa de Sousa Holstein (1841-1909), premiada no Salon de Paris (1884), no desenho de João Cutileiro (1937), na pintura de Emília Nadal (1938), a primeira artista portuguesa a dialogar com o Cântico dos Cânticos no Século XX, na ilustração de Ambrósio Ferreira (1951) e na escultura de João Carvalho (1963).
A realçar que a expressão no azulejo, um original contributo da nossa cultura para o enriquecimento plástico do tema está presente na Igreja da Nossa Senhora da Conceição, em Oleiros, na região de Castelo Branco que se torna o palco do que pode ser a semente do grande projeto de investigação sobre o Cântico dos Cânticos na galáxia de língua portuguesa desenvolvida durante vários anos por Gonçalo Salvado e Maria João Fernandes.
Nenhum poema ao longo do tempo despertou tanto fascínio e deu origem a tantas traduções e interpretações como o Cântico dos Cânticos, o mais sublime e exaltante dos poemas amorosos. Lineares umas, alegóricas outras, religiosas ou secularizadas, artificiais ou eruditas, todas elas são contudo unânimes em realçar o altíssimo valor artístico desta pequena obra lírica e o seu imenso encanto e o seu magnetismo.
Na verdade, a beleza e o fulgor dos seus símbolos, a intemporalidade das suas metáforas emergindo diretamente da fonte auroral dos arquétipos, a sua atmosfera plena de fragrâncias subtis e de inebriantes aromas, o êxtase da comunhão intensa e sempre inalcançável dos amantes fazem deste poema (ou conjunto de poemas, como defendem alguns) de apenas mil du- zentas e cinquenta palavras hebraicas, não só “uma das obras eróticas mais formosas que a palavra poética criou”, como escreveu Octávio Paz (1914-1998) em ensaio inspirado, mas um dos textos de que a humanidade mais deveria orgulhar-se.
No que se refere à Cultura Portuguesa o Cântico dos Cânticos tem vindo a afirmar-se como um arquétipo estruturante do imaginário português, está na raíz do nosso lirismo, deixou marcas não só na poesia medieval mas em toda a poesia, assim como em todas as expressões culturais posteriores. Esteve sempre presente na memória e no coração de todos nós e provavelmente, aí continuará por muito tempo, pois a luz que dele irradia assemelha-se à de uma chama perene, provinda de “um fogo que não consente extinção”, como escreveu Eugénio de Andrade (1923-2005). A intemporal chama do amor, por certo. Mas humano? Ou divino? E porquê a distinção na origem de tanta divergência interpretativa? Lembremos as palavras de David Mourão-Ferreira (1937-1996): “ (…) diante de um poema como o Cântico dos Cânticos, todos nós sentiremos vibrar, com renovada energia, a essência divina da nossa humanidade”.

15/02/2017
 

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