16 de maio de 2018

Maria de Lurdes Gouveia Barata
CHEGOU MAIO E TRAZ OS CARDOS DE FLOR VIOLETA…

Chegou Maio. Espreito o pequeno jardim de uma vizinha para avaliar o desenvolvimento do cardo de flor violeta com que todos os anos regalo os olhos. Já cresceu muito, mas para a flor ainda é cedo. É bonito mesmo. Atinge a exuberância em Junho e considero que é uma oferenda da Natureza para o meu aniversário. Todos os anos guardo o seu esplendor em duas ou três fotos, procurando ângulos diferentes dos de junhos anteriores. Este cardo de flor violeta (eu adoro roxos e violetas) tornou-se meu, já o disse à vizinha, que sorriu satisfeita, porque gosta de partilhar flores e apela a que olhemos a sua beleza.
Interessei-me por saber sobre cardos. Conhecia o facto de ser elemento importante da heráldica escocesa. Descobri uma lenda que conta a história dum grupo de guerreiros escoceses que estavam a dormir na iminência de ataque por invasores nórdicos. No entanto, picou-se no espinho de um cardo, dando um grito, acordando os que dormiam. Os escoceses acabaram por derrotar os invasores. A lenda do cardo de Santa Maria é também interessante, implicando a fuga de José, Maria e Jesus do Egipto.
Cardo deriva do latim carduus, que significa “fazer sinal com a cabeça”, nome escolhido decerto pela flor de forma ovóide apoiada no caule oscilante. Parece realmente um aceno. Na Argentina, o caule do cardo é muito apreciado na culinária, sendo consumido cozido e frito e na farmacopeia ocupa também lugar de destaque. Na China antiga era considerado como fortificante e capaz de conferir a longevidade. Como toda planta que contém espinhos, é símbolo de defesa ou protecção contra os ataques do exterior.
Chegou Maio. Dizemos palavras gastas como Maio mês das flores, mas não cansam, sabem sempre bem, porque os campos de Maio embriagam de cor e beleza, misturando-se de lembranças de outros maios que ficaram lá longe, no tempo de idades que ainda sussurram risos.
Agora não se sabe bem como será cada Maio a vir, uma vez que a meteorologia já não se escreve repetindo características de estações. Nas lembranças também se enrolam temores de trovoadas no Maio das Trovoadas. Ainda estremeço como em miúda… e ainda me invade o Santa Bárbara Bendita / no céu estais escrita / c’um raminho d’água benta / livrai-nos, Senhor (Senhora?), desta tormenta. // Chagas abertas / corações feridos / sangue derramado. / Que Nosso Senhor Jesus Cristo / se meta entre nós / e nos livre do perigo! Aprendi a oração em Monsanto e imensas vezes a repeti sob o clarão intenso de relâmpagos (alguns pareciam-me cor de petróleo!) logo seguidos do terrível ribombo do trovão. É curioso o facto de nunca ter encontrado esta oração a Santa Bárbara em qualquer outro local, relativamente aos versos que se iniciam com chagas abertas… Nem percebia muito bem o sentido dessa parte.
As tempestades deste Maio 2018 têm-se desenrolado mais a nível dos homens, com as nuvens negras de Trump (este está sempre presente em relâmpagos e trovões): rasgou o acordo nuclear com o Irão, que Obama tinha celebrado em 2015. Criticou o antecessor com aquele ar de convencimento impertinente e insolente, volta a impor sanções económicas ao Irão e, segundo especialistas no assunto, a potencialidade de uma guerra é de considerar. Dizem-lhe que erra, mas ele só acredita na iluminação da sua cabeça – deve ser por isso que traz relâmpagos e trovões. Santa Bárbara Bendita… Fico-me a pensar como é possível o destino dos homens estar entregue a alguns loucos que põem e dispõem como lhes apraz. Também fico a pensar num braçado de cardos com muitos espinhos para lhes oferecer…

16/05/2018
 

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