João Carlos Antunes
Apontamentos da Semana...
O REINO UNIDO ESTÁ METIDO NUMA GRANDE ENCRENCA. E o desastre, a acontecer, vai extravasar claramente as fronteiras insulares, pode transformar-se numa onda destruidora em toda a Europa. Porque como já era expectável, o Parlamento britânico chumbou de forma esmagadora a proposta de saída da União Europeia, que havia sido arduamente negociada por Theresa May. Agora a primeira ministra tem poucos dias para negociar com a oposição e apresentar o plano B, tentando convencer os líderes europeus a fazerem cedências, improváveis, nomeadamente na política de fronteira e segurança entre a Irlanda do Norte e a República da Irlanda, membro da Comunidade. O que está a acontecer no Reino Unido mancha bastante a imagem que o Mundo tinha dos Ingleses. Muita gente se questiona como foi possível que líderes populistas de direita como Neil Farage e Boris Johnson, usando reiteradamente mentiras, como eles mesmos assumiram no dia seguinte ao referendo (convocado irresponsavelmente por David Cameron, primeiro ministro da altura, como estratégia para reforçar o seu poder e calar os críticos) tenham levado todo um povo em direção ao desconhecido que será provavelmente o caos. Estas figuras lavaram dali as mãos e saíram pela direita baixa. E agora é mesmo o antigo primeiro ministro conservador, John Mayor, que havia feito campanha pela saída, agora é ele mesmo que reconhece que seja qual for a forma por que se apresente o Brexit, cada parte do Reino Unido ficará pior, todo o Reino Unido ficará pior, mais fraco e menos influente. E cada vez mais são audíveis os apelos a uma nova consulta, um novo referendo que coloque nas mãos de todos os Britânicos a confirmação ou não deste caminho de divórcio que terminará com uma relação de mais de quarenta anos. E também nós sofreremos duramente as consequências, mesmo com o plano de contingência entretanto aprovado pelo governo de António Costa. É bom não esquecer as perto de duas mil e novecentas empresas portuguesas exportadoras a fazerem negócio com o Reino Unido, para onde há vinte e seis empresas a exportar exclusivamente. E que dizer do setor de turismo que já tem vindo a sentir desde o início do processo as consequências da instabilidade, das incertezas no futuro e da desvalorização da libra? Esperemos que as medidas de contingência surtam mesmo efeito para defender os ingleses que procuraram o sol português para viver, defender os Portugueses que encontraram lá as condições e oportunidades de trabalho, que os corredores especiais para turistas Britânicos nos aeroportos ajudem a não os afastar, finalmente, que os cinquenta milhões disponibilizados pelo Governo para apoio às empresas sejam suficientes para que enfrentem, da melhor forma possível, a tempestade que se adivinha.