6 de março de 2019

Valter Lemos
DOMINGOS RIJO - UM HOMEM SÁBIO, SERENO, DISCRETO E DESPRETENSIOSO

DomingosConheci o Dr. Rijo em 1985. Eu tinha regressado em Janeiro a Castelo Branco, após a realização do mestrado na Universidade de Boston, preparando-me, com os outros colegas que tinham concluído o mestrado, para iniciar funções docentes na Escola Superior de Educação, cujo edifício se encontrava em construção, funcionando os parcos serviços, então existentes, num andar da Av. 1º de Maio, frente à praça. Presidia à comissão instaladora da ESE o Dr. José Figueiredo Martinho, que um dia me telefonou solicitando a minha presença para uma conversa importante. Desloquei-me aos serviços e junto com o Dr. Martinho estava outra pessoa que ele me apresentou como o Dr. Domingos Rijo. A conversa respeitava à apresentação de uma proposta para a nomeação de dois elementos para a Comissão Instaladora da ESE, que, à data, contava só com um elemento. O Dr. Martinho perguntou-me então se eu estava disponível para assumir tais funções, tendo-me informado que o outro elemento que iria ser proposto era o Dr. Rijo.
O ministério da educação, à data tutelado pelo ministro João de Deus Pinheiro, no célebre governo do Bloco Central (PS/PSD) presidido por Mário Soares, veio a aceitar a proposta tendo a nomeação ocorrido em Julho desse ano e em Outubro procedeu-se à conclusão e receção das novas instalações da ESE, iniciando as primeiras atividades da formação em serviço dos professores dos ensinos básico e secundário. No ano seguinte iniciar-se-iam aos primeiros cursos de licenciatura e de bacharelato.
Durante onze anos partilhei com o Prof. Rijo o gabinete de trabalho. Mas não partilhámos só o espaço. Partilhámos também os dois, juntamente com o Prof. Martinho, inúmeras tarefas, ideias, realizações, alegrias, e, claro, também algumas tristezas e desilusões. Quase todos os dias, ao final da tarde, depois de professores, funcionários e alunos terem encetado o regresso a casa, ficávamos os três avaliando as tarefas do dia, fazendo e refazendo projetos, reformulando objetivos e às vezes só conversando sobre a escola, os cursos, os professores, os estudantes ou, às vezes, a política ou os assuntos que o tempo trazia. Foi nessas tardes que foi frequentemente discutida a hipótese de haver um polo de uma escola do IPCB em Idanha-a-Nova e a algumas dessas conversas se juntou o então presidente da Câmara de Idanha.
Eu era um jovem de trinta anos e eles eram já dois professores muito experientes e maduros. O que aprendi com eles! Sobre interesse público, sobre relações humanas, sobre gestão institucional. Os seus ensinamentos e a sua camaradagem foram fulcrais na decisão de candidatura à presidência do IPCB apresentada em 1995.
Tinham os dois uma longa experiência docente e de gestão. Para além de um excelente professor de matemática, o Prof. Rijo fora, no Liceu de Bragança, um dos mais jovens reitores da história da educação portuguesa. Depois tinha dirigido o Liceu da Covilhã. Já após o 25 de Abril tinha sido diretor da Escola do Magistério Primário do Fundão.
No Instituto Politécnico de Castelo Branco teve um papel extraordinariamente relevante. Para além dos onze anos na comissão instaladora da ESE e na formação de novos professores, teve igualmente um papel central na instalação da Escola Superior de Gestão em Idanha-a-Nova. Quando assumi funções na presidência do IPCB e promovi a criação daquela escola por autonomização do polo então existente, não tive a mínima dúvida em lhe pedir a tarefa de condução de tal processo, o que ele fez com a sobriedade habitual, mas, igualmente com a competência que sempre colocava nas suas ações.
Era um homem sábio, sereno, discreto e despretensioso. Mas manteve sempre um grande interesse pelo bem público e pela participação cívica ativa, para além das suas atividades profissionais, designadamente no seu concelho de Idanha-a-Nova, onde foi vereador durante vários anos.
Admirado por todos os que com ele trabalharam e privaram, a sua discrição fez com que muitos nem sequer soubessem que tinha sido agraciado com a Ordem da Instrução Pública pelo presidente da República Jorge Sampaio.
Num tempo de pouca discrição e muitos vedetismos e vaidades, pessoas como o Prof. Domingos Rijo são facilmente esquecidas pelos poderes públicos e até por muitos dos beneficiários da sua ação, mas o seu papel no desenvolvimento da educação nesta região é bem merecedor de reconhecimento e também da admiração e gratidão de todos nós.

06/03/2019
 

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