1 de maio de 2019

João Carlos Antunes
Apontamentos da Semana...

É TÃO EVIDENTE QUE TUDO O QUE ACONTECE NA NOSSA VIZINHA ESPANHA nos interessa (e de que maneira!) que nem vale a pena explicar porquê. Por isso segui, como muito atenção, mesmo pelos canais de televisão espanhóis, o desenrolar e o resultado das eleições deste domingo, talvez uma das mais importantes dos últimos anos e que se revelaram um grande resultado para a democracia, a começar pelo elevado grau de participação, mais nove por cento de votantes que nas anteriores eleições gerais. Porque o PSOE renasceu das cinzas, voltou a ser o partido charneira da democracia espanhola, com uma liderança pujante de Pedro Sánchez que ainda há três meses publicava o livro Manual de Resistência, uma autobiografia que remete para o seu percurso político no PSOE onde teve de enfrentar a oposição dos históricos e barões do partido. Caiu para voltar a erguer-se à liderança, apoiado pelos militantes de base. Surgido fora do aparelho político do PSOE, moderado e reformista, tem o perfil ideal para o momento histórico que Espanha atravessa, capaz de criar consensos e foi assim que num ano, depois de ter assumido o poder na sequência de uma moção de censura ao governo de Mariano Rajoy, com uma política de descrispação e de diálogo transformou um partido que era terceira ou quarta força política no principal partido de Espanha, com uma vantagem significativa em relação aos restantes, nomeadamente o Partido Popular que desceu aos infernos (perdeu metade dos lugares no parlamento) de uma direita completamente dividida. E dessa direita, da extrema direita, que dizer? Que o Vox, um meteorito na política espanhola, na primeira vez que se candidata ao parlamento, ganha logo 24 lugares, mesmo assim felizmente algo distante dos valores que alguns analistas prognosticavam. No entanto estes valores de um partido antiemigração e antieuropeista que reúne à sua volta os saudosos do regime franquista e muitos jovens desiludidos com o sistema político, têm de deixar preocupados os democratas de uma Europa onde apenas quatro países, um deles é Portugal, não têm partidos da extrema direita com representação parlamentar. Não gostámos de ver o cabeça de lista do CDS às europeias, Nuno Melo, defender a virtude do Vox que compara com o nosso Aliança de Santana Lopes e a apadrinhá-lo para a sua entrada no Partido Popular Europeu, possibilidade desde logo afastada pelo social democrata Paulo Rangel. Será que Nuno Melo nunca leu as bases programáticas desse partido? Já agora, Assunção Cristas sempre lesta a cavalgar a onda, agora ficou calada no seu cantinho à espera de ver o que acontece. Vamos esperar para ver como é que Sánchez vai desatar o nó da governabilidade, com a possibilidade forte de se ir para uma experiência de geringonça à espanhola, na certeza de que como disse Marcelo Rebelo de Sousa, o que for bom para Espanha será bom para Portugal.

01/05/2019
 

Em Agenda

 
29/05 a 12/10
Castanheira Retrospetiva Centro de Cultura Contemporânea de Castelo Branco

Gala Troféu Gazeta Atletismo 2023

Castelo Branco nos Açores

Video