António Salvado
NATAL A MEIAS
Quando nasceres, meu sacral menino,
vou ofertar-te nem sei bem o quê...,
pois são tantos anúncios transmitindo
coisas tão boas nas quatro tê vês…,
E não sei neste enorme rodopio
de propaganda que comprar p’ra Ti:
meias da calcedónia? o riso fino
daquela actriz? ou umas camisinhas?
Uns sapatinhos de bom cabedal,
ou metade da compra p’rós bombeiros?
mascarilha soez de carnaval?
uns gostosos bombons (sempre dá jeito…)?
Talvez uma garrafa de espumante
a ser bebida pelos teus pastores
e por três reis de sítios bem distantes
e sem esquecer José (é sem favor…)…
Talvez uma caixinha de pastéis
de Belém (qu’ironia) ou do Fundão
(terei que ver os saldos… Confusão
que reina por aqui neste universo!...)
Porém, quando p’ró ano regressares
de novo a enregelar cheio de frio
eu já terei escolhido (mas nos saldos!)
uma prendinha que te ponh’a rir!
E com tais vendilhões a profanarem
profundamente o Teu sagrado ser,
perdoa-lhes, Senhor, eles não sabem
o que fazem e… querem lá saber!!...