João Carlos Antunes
Apontamentos da Semana...
ESTE ANO O DIA DOS NAMORADOS foi vivido de uma forma diferente. Mesmo que se possa dizer que namoro, para quem se ama acontece todos os dias, não há volta a dar. Vivemos numa sociedade de consumo onde todos os pretextos são válidos para promover a compra, o consumo de bens quase sempre não essenciais, mas a que parte importante do público alvo não consegue resistir. E é bom lembrar que disto também depende a economia local. As floristas, perfumarias, as lojas de vestuário e calçado e, claro, os restaurantes com menus especiais para atrair pares de namorados, sejam eles de papel passado em cartório ou não. Lembram-se ainda de como era difícil nesse dia, sem prévia reserva, encontrar um restaurante para uma ceia romântica? Este ano, pelo menos quanto à ceia romântica, só no remanso do lar com refeição de restaurante a chegar de táxi, uma boa ideia da autarquia para apoiar tanto a restauração como os profissionais dos táxis, sem clientes enquanto não reabrirem serviços e a vida voltar a circular. Mas este cenário mais ou menos idílico das relações amorosas todos os anos é assombrado pelos estudos que desde há algum tempo tentam monitorizar os problemas relacionados com o namoro e que tradicionalmente são apresentados por esta altura. No Dia dos Namorados, não para estragar a festa mas para fazer refletir sobre a realidade que está muito para além dos passeios de mãos dadas. A PSP diz-nos, em dados preliminares, que em 2020 foram registadas 2.006 denúncias, das quais 1.116 relativas a violência entre ex-namorados e 890 a relações de namoro. Uma pequena, muito pequena redução de cinco por cento em relação ao ano anterior, tendência que a PSP acredita ser o resultado das ações de sensibilização que tem desenvolvido junto da comunidade escolar. Cerca de 85 por cento dos relatos de violência no namoro apresentados à PSP envolvem violência psicológica, a acumular com violência física, presente em 70 por cento das denúncias. Mas mais preocupante é o estudo apresentado na passada sexta-feira pela União de Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR) num seminário on-line (webinar) promovido pela Comissão para a Igualdade de Género (CIG), no âmbito da campanha #NamorarSemViolência, criada pela Secretaria de Estado para a Cidadania e a Igualdade, a propósito do dia de São Valentim. E é preocupante o que nos diz o estudo porque entre os mais de cinco mil jovens que foram objeto de estudo, com uma média de idades de 15 anos, 67 por cento consideram legítima a violência no namoro com 19 por cento a desvalorizar a violência sexual e 25 por cento consideram que é aceitável o insulto durante uma discussão ou entrar nas contas das redes sociais sem autorização. Número significativo aceita que se pressione para beijar e entendem mesmo que é aceitável esbofetear sem deixar marcas. É esta cultura da violência nas relações amorosas entre os mais jovens que nos deve deixar preocupados porque, sabendo que o enamoramento quantas vezes oblitera a razão, são prenúncio da violência conjugal que tantas vezes acaba em tragédia. Apetece dizer que mais vale só que mal acompanhado...