Edição nº 1689 - 5 de maio de 2021

António Nunes Farias
AGARRA…QUE É JORNALISTA

Sou jornalista e não gosto de futebol mas gostei da reacção da Federação Portuguesa da modalidade, do que disse Rui Rio, todos os comentadores de futebol e, do resto e de mais 500 mil opiniões (uma delas é a minha) a condenar a agressão a um camarada por parte de um indivíduo ligado ao negócio futebol. Ignóbil o gesto mas compreensível a intenção. Passo a explicar, ignóbil porque bater em alguém é feio, promove o stresse e a adrenalina sobe a níveis perigosos. Gesto compreensível, porque é fixe e a fotografia fica mais nítida no que toca ao agrado geral da tribo e a aprofundar amizades e compromissos. Um dos amigos nada viu e nada escutou. É um amigo cego e surdo. O inimigo, o jornalista, claro, ficou com elas no corpo e agora é deixar correr a tinta. Francisco Ferreira, repórter de imagem da TVI e “saco de porrada” está em choque, compreensivelmente. Afinal foi ele o alvo de frustrações e de raiva furiosa. F. Ferreira ficou calado porque com gente capaz de bater com força e com antecedentes, no futuro, todo o cuidado é pouco, e calculo que esteja bem ciente disso. Mas como o crime é público, não há volta atrás. O episódio segue para o Tribunal e desconfio que a ser assim não faltarão promessas de “encontro de contas” ou de ameaças pendentes na calha. Em suma, F. Ferreira vai passar os próximos tempos com a sensação de insegurança, de medo e de ansiedade. Enfim, refém de uma situação que não criou mas que lhe criaram naquela noite em Moreira de Cónegos.
Os ódios que o futebol gera há muito que estão estudados, não há é remédio que os trate. O verdadeiro perigo é esse. O gene da malvadez não é coisa que prescreva…mantém-se e até evolui.
Já levo de profissão mais de trinta anos. Do jornal da escola aos jornais nacionais. Das rádios pirata, às regionais com passagem em regime de colaboração com algumas de âmbito nacional até à RTP onde trabalho. Ora quem ganha a vida há três décadas nesta função sabe o que F. Ferreira passou e está a passar. E o desafio para qualquer jornalista que ande no terreno (alguns fazem jornalismo de sofá), sujeita-se a situações assim. Agressões, provocações, ameaças e ódios para memória futura. Em tribunais, manifestações e, cá está…nos campos de futebol. Passei por algumas destas situações e a sensação não é das melhores. Mas o fenómeno da violência física e psicológica aos jornalistas, no futebol é o mais estranho. É-me estranho isto porque, quem ameaçou e prometeu outros desfechos era gente conhecida. Pessoas “normais” que cumprimento na rua, alguns até colegas da escola. E o fenómeno é este: o que leva o mais ou menos fanático a entrar em modo de confronto com alguém que só quer informar os outros? Será um escape aos stresses do dia-a-dia? A coisa corre mal em casa? Falta dinheiro no bolso e só chega para o futebol? Os negócios estão a dar para o torto? Enfim, cada um saberá de si. Uma certeza porém, a culpa não é minha, menos será do colega repórter de imagem que me acompanha. A premissa é simples para cabeças básicas: ou o jornalista é dos nossos ou… do inimigo e aí é um alvo a abater. Abata-se. As costas quentes ajudam. A paranóia colectiva fornece a força. Acaba o jogo e a paranóia tem tendência a dissipar-se. Os “anormais” voltam ao normal. Bons pais de família, gente bem que retoma os valores e vão à missa com a família (ao domingo, antes do jogo).
Assim, o camarada F. Ferreira, em reflexão, tem tempo para refletir. Talvez futebol nunca mais precavendo a segurança do corpo e garantindo alguma saúde mental. Fico-me por uma pergunta devido ao que se chegou: árbitros com direito a segurança dia e noite e os jornalistas, não? Porquê não? Afinal arrear num jornalista não é crime público? Há que evitá-lo, protegendo-o. Até os “donos disto tudo” têm, não polícias mas amigos-gorilas… é que se a moda pega...

05/05/2021
 

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