António Nunes Farias
OLH’À…BAZUCA
Desde quer foi anunciada esta espécie de hardpower para a economia portuguesa que imagino muitos a afiar a faca para cortar uma fatia aos milhões. Dita a história que quando cheira a dinheiro, muito dinheiro, existe a tendência inata, no pensamento de alguns de definir estratégias para ganhar algum.
O cheque já foi entregue por quem comanda a (des)união europeia. Ursula von der Leyen apareceu sorridente ao lado do todo sorridente António Costa. Com razão para sorrir, este último. Nada de novo quando o país da pedinchice já se habituou à função, a permanente mão esticada, qual pedinte face à Europa. As contas são fáceis de fazer e o João Miguel Tavares, no Público (22 de junho 2021) deu uma ajuda: “estamos há 35 anos a receber fundos de coesão, e, cerca de 150 mil milhões de euros depois, continuamos na cauda da Europa…”. Eis portanto o belíssimo aluno que recebe com fartura e gasta melhor sem se ver grande coisa, ou seja, grandes progressos na vida de cada um, na vida de milhares de empresas, agricultores, e, por aí fora. E o problema é mesmo esse. Muito carcanhol que entra e quase nunca se vê. Retifico, só alguns lhe conseguem deitar a mão.
Os Portugueses não aprendem a gerir a massa e quando é à tripa forra pior ainda, é uma alegria. Como dizem os brasileiros, um forró. Ora, eu que nunca fui grande adepto do Big Brother seja para o propósito que for, desta vez dou a mão à palmatória. Já que os de cá não sabem controlar o pilim, que sejam os de fora a tentar pôr ordem na coisa. Que controlem, que monitorizem e que, no limite, denunciem os desvios e os ímpetos da ganância lusa. Desmascarem os artistas dos esquemas e haja a consequente punição à séria.
Certo é que, uma parte da Bazuca já cá canta, está no papel devidamente assinado e a caminho da tesouraria. Não esquecendo o histórico português quanto ao destino a dar ao dinheiro: jeeps topo de gama no Alentejo, triplicação da dimensão real das propriedades, culturas que nunca foram, enriquecimento quase de um dia para o outro, cofres cheios quando já abarrotavam, etc. Enfim, há pessoal que é mesmo assim. Está-lhes no sangue e a alguns vem do berço.
No meio de toda esta pândega colectiva eis uma boa notícia. Chega o aviso de que o PRR, vulgo, Plano de Recuperação e Resiliência, vai ter Tolerância Zero. E o que que isto quer dizer? Simples, rigor e transparência para combater a rapaziada das contas aldrabadas e com vontade de meter a mão na massa. Duas palavras, fiscalização apertada. E mais uma novidade, até já dizem de Bruxelas que o olho que tudo vê está montado. Do Tribunal de Contas à Inspeção-Geral de Finanças, de equipas de auditoria da Comissão Europeia a uma comissão específica do Parlamento Europeu. Assim, desta é que vai ser. Continhas limpinhas, projectos direitinhos e contabilidade em ordem.
Quero acreditar no Primeiro-ministro sorridente quando diz que, “podemos encarar os próximos anos com confiança”, em quem não confio é na teia de interesses que pululam por aí e que enquanto quem passa o cheque dorme alguém antecipa a jogada. Afinal, com tanto dinheiro em jogo muito dele vai passar por entre os dedos de quem vai monitorizar. Simplesmente escapa ao controlo.
Quanto aos fundos, são 16,6 mil milhões de euros, dos quais 14 mil milhões serão a fundo perdido. Tanto dinheiro que me leva a pensar que do valor global já consta uma margem jeitosa para cobrir as falcatruas futuras. O dinheiro faz destas coisas. Muito dinheiro faz igual.