João Carlos Antunes
Apontamentos da Semana...
FORAM CONHECIDOS POR ESTES DIAS os dados preliminares dos censos 2021. E não foram grande surpresa. Era bem evidente para qualquer um mais atento que Portugal continuava desequilibrado, a tombar para o litoral apesar de todas promessas de amor ao interior que se renovam com uma regularidade cíclica, em especial nos períodos eleitorais. Surpreendente foi a diminuição, em 214 mil, da população residente em Portugal, algo que já não acontecia desde os anos 60, o período de forte corrente emigratória, especialmente para França. O nosso distrito não foi exceção, com todos os concelhos e freguesias rurais a apresentarem um défice populacional que exige uma reflexão séria e, mesmo sabendo que não há soluções milagrosas, os autarcas ou candidatos a sê-lo devem ter em conta as variáveis que conduzem a esta situação para promover a mudança de paradigma, promovendo o desenvolvimento económico que só se consegue com o território ocupado por população em idade ativa. Por isso não é admirar que este seja um tema central nas propostas de todos os candidatos autárquicos. Porque é um problema sério que exige uma reflexão séria.
EM 2015, um incêndio quase destruía por completo o bonito edifício histórico do centro de S. Paulo que alberga o Museu da Língua Portuguesa. Foi recuperado, assim como a maioria do seu importante acervo, que felizmente estava em formato digital, e reabriu agora. Para este momento tão simbólico foi convidado o presidente Marcelo, tal como o anfitrião da visita, o presidente Bolsonaro e os ex-presidentes brasileiros ainda vivos, incluindo Lula da Silva, provável futuro residente no Palácio da Alvorada. Mas no momento de menor aceitação popular da sua governação, com níveis historicamente baixos de popularidade, isolado também a nível internacional, Bolsonaro resolveu trocar a inauguração por uma passeata com os seus amigos motards da extrema direita. Nada de estranhar de um presidente que não é particularmente conhecido pela sua estima pela cultura. Questionado sobre esta desconsideração do presidente brasileiro, Marcelo respondeu à letra lembrando uma expressão nortenha: só dança quem está na roda. Não tardará que Bolsonaro fique sozinho na roda.
SE FOSSE VIVO, ZECA AFONSO teria feito por estes dias 92 anos, mas a doença levou-o cedo, aos 57 anos. Um nome que parece já andar esquecido da memória de muitos portugueses, aliás como acontece com tantos outros artistas e escritores que marcaram tão incisivamente toda uma geração. Num perfeito sentido de serviço público, a RTP 1 lembrou-o num excelente e sentido documentário que passou na hora de maior audiência, na noite do seu aniversário. Do Zeca lembro o seu exemplo de luta, as suas canções, populares ou de intervenção política. E lembro também que estava sentado ao seu lado na noite de 24 de abril de 1974, no Instituto Alemão ao Campo Mártires da Pátria, em Lisboa. Assistíamos ambos a um concerto de jazz e pergunto-me se ele sabia que a Grândola iria poucas horas depois, ser o sinal para o início da revolução que nos devolveu a liberdade e a democracia. Com Otelo no posto de comando e com Grândola a ser para sempre o hino da Revolução dos Cravos