Edição nº 1705 - 1 de setembro de 2021

Valter Lemos
ELEIÇÕES AUTÁRQUICAS

Este mês realizar-se-ão as eleições autárquicas. E muita coisa se pode decidir nestas eleições.
Apesar das autárquicas serem eleições locais, as consequências na política nacional podem ser significativas.
Comecemos pelo PS. Não parece provável que o PS tenha uma derrota nas autárquicas. Pelo menos significativa. Afinal a atual distância entre o PS e o PSD é tão grande que para que tal acontecesse, era necessário um verdadeiro cataclismo, que nenhum indicador aponta. Portanto, não parece estar em causa uma vitória do PS em número total de câmaras, mandatos e votos. Mas, o PS pode diminuir em algum desses aspetos ou até em todos, o que não deixaria de ser interpretado politicamente como um enfraquecimento. O PS pode, pois, ter uma vitória, mas a dimensão da mesma ser interpretada como um recuo.
Apesar de tudo o PSD joga muito mais nestas eleições. É verdade que o PSD parte de um nível muito baixo, após a copiosa derrota das últimas autárquicas. Portanto uma melhoria dos resultados parece mais provável. Mas, se essa melhoria não ocorrer, ou se ocorrer de forma ténue, poderá aprofundar-se muito o descontentamento das bases do partido e estará em causa a liderança do PSD. Este cenário não parece muito distante, tendo em conta as dificuldades aparentes em alguns concelhos mais relevantes. As sondagens parecem apontar para uma derrota quer em Lisboa, quer no Porto e se a escolha de Carlos Moedas em Lisboa se pode considerar uma boa aposta, as guerrilhas do Porto com Rui Moreira parecem prometer mau resultado para o PSD. Nas restantes capitais de distrito também não se auguram significativos “roubos” de autarquias ao PS.
No caso de Castelo Branco, a direção do PSD parece ter feito tudo o que podia para não ganhar as eleições e até para fazer pior resultado do que nas eleições passadas, perdendo uma oportunidade para fazer um bom resultado, capitalizando o descontentamento com o caso ocorrido com o anterior presidente da câmara e com o desnorte e divisão que o PS mostrou na gestão do processo autárquico.
Outros dois partidos para os quais estas eleições podem ser bem relevantes são o PCP e o Chega. Para o primeiro a questão é da maior relevância. Um dos pilares da estratégia política comunista é o poder autárquico. Ora nas últimas eleições houve sinais alarmantes. O PCP perdeu várias câmaras e algumas da maior relevância para a sua implantação. Ora o PCP dificilmente sobrevive sem o pilar autárquico. Se a hemorragia continuar nestas eleições o PCP ficará numa situação política muito difícil. E isso poderá obrigar a uma radical alteração estratégica que poderá pôr em causa o atual governo do PS e o alinhamento político da última década.
O caso do Chega será também interessante de acompanhar, para se perceber qual é a expressão local da confusa caldeirada do Chega. Será que uma amálgama de saudosos do antigo regime, “descamisados” furiosos, desprezados políticos, chauvinistas amargurados, vencidos da vida, oportunistas de turno, negacionistas, etc., consegue gerar projetos locais ou candidatos que obtenham a confiança ou o apoio de uma parte significativa dos eleitores em alguma ou algumas comunidades? Se tal acontecer isso pode dar ao Chega algumas condições de organização mais consistente para além do aparente epifenómeno que parece ser.
O CDS/PP também joga alguma coisa nestas eleições. Ainda que não seja, nem nunca tenha sido, um partido de significativa implantação autárquica, a expressão do CDS tem sido nacional, tendo expressão eleitoral em muitos concelhos e também alguma expressão em mandatos, quer sozinho, quer em coligação com o PSD. O aparecimento do Chega e da Iniciativa Liberal, parecem estar a esvaziar o CDS, quer dos eleitores saudosos do estado novo, quer de camadas liberais mais jovens e urbanas. Como se expressará a tendência nas autárquicas? Resistirá o CDS ou estas eleições constituirão mais um prego no caixão?
Por fim o Bloco. O BE é um caso especial no panorama político. O partido consegue apresentar uma expressão nacional significativa, mas no panorama autárquico é pouco relevante. O Bloco é fundamentalmente um partido urbano com pequena expressão local fora dos grandes centros. E essa situação parece continuar de eleição para eleição. Nem a maior expressão nacional parece alavancar significativamente a dimensão autárquica, nem a menor expressão autárquica parece afetar a dimensão nacional. E não se vislumbram fatores que alterem muito essa situação.
Por fim os “independentes”. Esta figura originalmente interessante tem, na verdade, sido preenchida na quase totalidade dos casos por dissidentes partidários, que por razões de não serem aceites pelos seus partidos se candidatam separadamente. Vejam-se os casos de figuras conhecidas como Santana Lopes ou Isaltino de Morais, ou o próprio caso da candidatura de Luís Correia em Castelo Branco. Há, no entanto, alguns casos de “independentes” mais genuínos como Rui Moreira no Porto, mas são situações mais raras e há ainda as candidaturas “independentes” que usam, por “empréstimo” a sigla de um partido, situação que também temos em Castelo Branco, com a candidatura de Rui Alves pelo MPT.
Em Castelo Branco as autárquicas ameaçam transformar-se num jogo de soma nula. As atribulações derivadas da perda de mandato do anterior presidente da câmara, parecem ter conduzido a uma situação confusa. O eleitorado do PS está posto perante a situação de uma candidatura do próprio partido, encabeçada pelo anterior presidente da Junta, Leopoldo Rodrigues, que integrava anteriormente a equipa de Luís Correia, e a candidatura deste, como “independente”, mas associando alguns anteriores presidentes de Junta e vereadores do PS. O PS tenta cerrar fileiras, mas a divisão está bem à vista. O eleitorado do PSD, após o veto da direção nacional sobre a candidatura do anterior vereador Carlos Almeida e a imposição de João Belém, encontra-se também dividido. Não deixará a candidatura de Rui Alves sob a sigla do MPT, de beneficiar com isso, bem como o próprio Luís Correia cujas ligações a alguns setores do PSD são notórias. As candidaturas da CDU e do Bloco aparentam ainda maior fraqueza do que anteriormente e o caso do Chega não parece assumir qualquer relevância, ainda que que seja difícil equacionar o possível efeito, que, a existir, irá projetar-se principalmente no eleitorado do PSD, acrescentando a divisão deste.
Neste cenário a projeção dos resultados ganha maior imprevisibilidade. As maiorias absolutas que caracterizaram sempre a situação autárquica em Castelo Branco, parecem estar fora de hipótese, o que significa um enquadramento político totalmente novo para o próximo mandato e a possível governação municipal em minoria ou em coligação. Tendo em conta que o candidato do PS, Leopoldo Rodrigues, já separou as águas e assumiu na RTP o compromisso público de rejeição absoluta de coligação com Luís Correia, as alternativas possíveis são assim mais reduzidas.
Em qualquer circunstância iremos continuar num período conturbado da política local e o futuro da governação autárquica parece nebuloso em qualquer circunstância. Tendo em conta que o mandato que está a decorrer já foi catastrófico para Castelo Branco, a situação que se avizinha, ameaça aprofundar o declínio.

01/09/2021
 

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