APRESENTADO NO PRÓXIMO SÁBADO, 9 DE OUTUBRO, NO ENTRONCAMENTO
Manuel Fernandes Vicente lança Música nas Cidades
O escritor e jornalista Albicastrense Manuel Fernandes Vicente, com raízes familiares em Malpica do Tejo e que vive há alguns anos no Entroncamento, apresenta, no próximo sábado, a partir das 18 horas, no Cineteatro São João, no Entroncamento, o seu novo livro Música nas Cidades - Folk, rock, estilos étnicos e polifonias da Terra. A obra corresponde ao quarto volume dedicado à pesquisa encetada há algum tempo pelo autor procurando os elos que ligam organicamente o caráter histórico, social, urbano, imigratório, industrial, rústico, político e até mesmo climático, entre outros, de importantes cidades do planeta e a natureza harmónica, rítmica e poética dos estilos musicais que nelas se criaram quase espontaneamente, e resultantes do simples pulsar da dia a dia das suas gentes.
Nesta edição, um dos seus capítulos é dedicada à beirã Idanha-a-Nova, a Capital do Adufe e reconhecida, em 2015, pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) como City of Music no contexto da Rede das Cidades Criativas.
Manuel Fernandes Vicente escreve no livro que “o adufe é um instrumento despojado, sem volúpias nem virtuosismos, tem o caráter das suas adufeiras e a alma de um povo, Idanhense e beirão, cuja paisagem rala e envelhecida de carvalhos, oliveiras e sobreiros, marcada pela charneca, igualmente crua, e por enormes blocos de granito, ajudam a compreender melhor. Vive-se ainda uma religiosidade antiga e rural, os sinos a informarem e a darem sinais do que a comunidade deve fazer, o canto a sair em melopeias à porta da igreja, num cortejo de oferendas, no fiar da lã ou no maçar o linho”.
O autor destaca também o papel e o contributo das “novenas, o toque das ave-marias e dos finados, o período da Quaresma, as idas aos ensaios com o adufe, e depois a consagração a acompanhar as modas, os acordeões e as cantadeiras nas eiras, nas ceifas, nas desfolhadas, na lavoura, nas festas, nos arraiais e nas romarias, nas Janeiras, no Dia de Reis, nos mistérios da Quaresma e nas sementeiras, na Encomendação das Almas, nas alegrias e na animação que pelos caminhos vão até às ermidas, que na Idanha são muitas e não são alheias à vida”.
Na análise e reflexão que o autor constrói em torno de algumas dezenas de géneros musicais, Manuel Fernandes Vicente procura ligações, causalidades e conexões que mostram as cumplicidades entre alguns centros urbanos e os estilos, os instrumentos e até atitudes de grupo que aí se desenvolveram. A abordagem própria de cada capítulo passa ainda pelo salientar dos músicos que se salientaram pelo seu papel pioneiro ou pelo virtuosismo com que se destacaram, e ainda por múltiplas e expressivas histórias que se foram desenvolvendo no âmbito da natural evolução dos géneros musicais.
Todos os continentes são abrangidos neste livro, que aborda tanto reflexões e episódios curiosos com “as trompas feitas de raízes que falam pelos espíritos ancestrais”, de Afounkaha, como da cena dos “infames” blues de Austin, dos Estados Unidos da América; a cena eletrónica de Berlim, na Alemanha após a queda do muro; a vida real e incrível dos encantadores de serpentes de Jaipur, da Índia, ou o glorioso canto joik do povo Sami na vasta, mas rarefeita, região da Lapónia; o nha nhac, da corte real de Hue; a curiosa folk arbëreshë de San Demetrio Corone e as polifonias soberbas dos pigmeus da região de Bangui.
Com incidência portuguesa, o autor refere-se aos casos das populares adufeiras de todo o concelho beirão de Idanha-a-Nova, ao superlativo exotismo dos carrilhões de Mafra, ao intrépido cante ao baldão de Castro Verde, ao metal nada conformista de Almada, Barreiro, Moita e Seixal e à vigorosa, mas pouco divulgada, cena avante-garde lisboeta.
De quase todos os 57 estilos, que são outros tantos os capítulos em que o livro se reparte, são destacados 10 álbuns, que por várias razões se tornaram notáveis, icónicos ou identificativos, e ainda canções, músicas e temas que, a título do seu gosto pessoal, o autor recomenda ou sugere aos leitores, e que hoje estão facilmente ao acesso de todos através dos canais de vastíssimos reportórios de música da Internet, como o Youtube, o Napster e o Deezer, entre outros. Músicas belíssimas e que não envergonham nada a Humanidade, como Soria Maria e Twelve Moons, Duel, Moonlight Serenade, The Dog-End e El Minero são alguns dos exemplos sugeridos, a título meramente pessoal, pelo autor aos seus leitores… De resto, o livro pode bem ser lido e ouvido com os discos propostos e outros…