João Carlos Antunes
Apontamentos da Semana...
POR ESTES DIAS há um assunto que enche os debates públicos, qualquer que seja o meio em que ele se faça. Estamos em plena discussão do Orçamento de Estado que, depois do fim da geringonça que sustentou o governo socialista do primeiro mandado de António Costa, todos os anos parece ser o detonador de uma crise política que ninguém assume querer, ou que pelo menos não quer que se lhe entregue o ónus daquilo que o eleitor comum, que estão para além dos militantes de cada partido, claramente também não quer. Por várias razões, até pelo cansaço de, mal saídos de umas eleições autárquicas, ter à perna durante semanas e semanas, políticos encartados e candidatos a deputados, em cada esquina da televisão ou em arruadas, a propagandear as virtudes de um programa partidário que vai finalmente tirar este país da cauda da Europa, trazer a este povo as cornucópias da abundância e do emprego. E é o cenário que se adivinha, se a proposta de OE que está em cima da mesa para discussão não for aprovada. Se não for aprovada será porque na Assembleia da República volta a haver uma maioria negativa, juntando a esquerda fora do PS com a direita. E ainda recordamos o que aconteceu na última vez que isso sucedeu. Mesmo que desta vez seja pouco provável que a eventual queda do governo e eleições antecipadas, se traduza numa mudança de cor política de quem governa. E é assim que chegamos a um momento em que o Primeiro-Ministro e o Presidente da República, cada um à sua maneira, dramatizam a possibilidade de chumbo do Orçamento. Como alerta o Presidente, a crise política poderá ser dramática para a nossa economia a querer sair de uma crise profunda provocada pela pandemia. Dramático seria, neste contexto, viver-se em regime de duodécimos. Incompreensível seria desperdiçar por vários meses os estímulos à retoma, ao investimento público nos serviços de saúde, educação e infraestruturas, aos apoios sociais e às empresas, potencializados no Plano de Recuperação e Resiliência. Independentemente da opinião que cada partido e movimento legitimamente tenham sobre as opções em que se fundamenta este Orçamento, seria bom que se refletisse sobre se num hipotético futuro governo saído dessa eleição, o OE seria muito diferente daquele que agora os partidos de esquerda ameaçam chumbar. Se o Bloco de Esquerda parece de vez afastado da solução, até pela forma como apresentou as medidas que reivindica, algumas irrealistas e não quantificadas em termos orçamentais, é provável que o PCP mais uma vez volte a mostrar-se como o parceiro mais fiável do Governo. E que assim poderá ser a boia de salvação de uma crise que julgamos só interessar aos partidos da franja mais à direita, populistas, mais capazes de conquistar os eleitores cansados das jogadas políticas que parecem não ter em conta a realidade e a conjuntura que se vive no País.