João Carlos Antunes
Apontamentos da Semana...
POR ESTES DIAS, tem estado no centro dos debates a questão da separação do público e do privado entre as figuras públicas, no caso figura política, a primeira ministra finlandesa, Sanna Marin. Caíram imagens nas redes sociais e logo divulgadas pelos meios de comunicação internacionais, de uma festa privada onde ela com os amigos, dançava de forma descontraída, em movimentos de dança que são naturais numa mulher de 36 anos que gosta de se divertir. Filmada por telemóvel de amigo e participante na festa, parece que a divulgação terá sido obra de hacker russo, algo que não nos pode surpreender, porque a guerra atual acontece em várias frentes e Sanna não será certamente figura simpática a Putin. A primeira reação foi de condenação, como se uma primeira ministra não se pudesse mostrar em momentos de diversão e descontração. E até os lideres políticos da oposição da Finlândia aparecerem a cavalgar a onda da condenação inicial, pedindo logo a demissão, mas rapidamente deram a volta ao prego e a contestação política pouco durou. Porque a onda de solidariedade com numerosas mulheres da Finlândia e Noruega a apresentar vídeos nas redes sociais dançando, movimento que logo se espalhou por todo o mundo, rapidamente fez desvanecer o movimento de crítica. Erradamente quis-se comparar esta situação com as festas organizadas em Downing Street por Boris Johnson. Nada mais errado. Não se criticam as diversões dele, critica-se é o momento em que elas aconteceram. Esta história que acabou por ter um final feliz foi uma boa ocasião para se discutir o direito à privacidade de figuras públicas, um direito negado desde há muito tempo pelos paparazzi, os fotógrafos que perseguem celebridades e figuras públicas para alimentar jornais e revistas de escândalos e histórias cor-de-rosa. E para confirmar aquilo que já todos sabemos, que as redes sociais tanto podem ser esgoto a céu aberto como bons suportes de movimentos solidários.
A DEMISSÃO, hoje (30 de agosto), de Marta Temido já era pré-anunciada há alguns meses. Desde que se tornou no alvo a abater pela oposição e pela comunicação social em geral, em editoriais e artigos de opinião. Com noticias diárias de aberturas de telejornais de desgraças do SNS, principalmente problemas nas urgências e nos serviços de obstetrícia. Ainda há pouco tempo, escrevia-se num jornal diário que um turista que aterrasse em Portugal e assistisse a um qualquer bloco de noticias haveria de pensar que Portugal era um país de doentes, porque parecia ser a saúde o único ou principal problema que afetava os portugueses. E foi a esta pressão que a ministra da Saúde não conseguiu resistir. Pensamos que a maioria dos portugueses continua a olhar para Marta Temido com simpatia, pelo que ela fez durante a pandemia. Conseguiu vencer a tempestade pandémica, não resistiu a um verão pós pandémico com profissionais de saúde esgotados e falta de recursos humanos, situação que veio agravar os problemas sazonais que já existem há muitos anos. E não a acusem de governar com convicções ideológicas, porque isso é o que se pede a um governo eleito com base numa ideologia, seja ela de direita ou de esquerda.