Valter Lemos
VIVAM AS MULHERES IRANIANAS!
O Irão continua a matar as suas mulheres e os seus jovens. Os protestos têm sido fortemente reprimidos com milhares de espancamentos e centenas de mortos e feridos.
Desde a morte de Misha Amini as heroicas mulheres iranianas e os jovens têm-se manifestado diariamente contra o regime repressivo e cobarde que as tortura e mata. Porque são mulheres e contestam a opressão a que estão sujeitas. Espancar e matar mulheres simplesmente porque não escondem o cabelo é uma crueldade e uma cobardia inaceitável para a condição humana.
Gente que faz isto, seja em nome do que for, não merece qualquer respeito.
Pode dizer-se que a história está cheia disso, que as religiões monoteístas, e não só os islâmicos, sempre trataram mal as mulheres, mas tal não diminui nem um grama a responsabilidade de dirigentes políticos e religiosos e de polícias, soldados, pais, irmãos e maridos, que oprimem, diminuem e achincalham as suas filhas, irmãs, esposas e as mulheres em geral.
Na verdade, as grandes religiões monoteístas têm um historial tenebroso relativamente às mulheres. Os cristãos queimavam na fogueira as que não aceitavam a sua situação ou o seu estatuto de menoridade e os islâmicos são o que se vê no Irão, Arábia Saudita e maioria dos países árabes. Os responsáveis religiosos escudam-se no que está escrito nos livros que consideram sagrados, que foram escritos por homens há milhares de anos, pretensamente em nome de um deus. Tais livros inserem-se nos contextos da época em que foram escritos e querer garantir tais contextos no tempo de hoje é não só ridículo como cruel.
O regime iraniano é um dos mais fundamentalistas do mundo e assim, também um dos mais repressivos. O fundamentalismo assenta na supremacia da crença sobre o conhecimento. O importante não é saber, mas acreditar. E assim a crença justifica-se a si mesma. Não é preciso haver justificação para acreditar. A crença considera-se um bem em si mesma. Mesmo que seja na maior das maldades.
Os dirigentes políticos iranianos matam mulheres que não escondem o cabelo, em nome de quê? E reagem à contestação a tal maldade matando ainda mais. Seguidamente tentam justificar-se, de forma nada convincente, com diatribes contra os países que consideram seus inimigos. Aliás o cúmulo do ridículo é ver na TV o comandante das forças de segurança, depois de muitas mortes de mulheres e jovens na repressão às manifestações, falar para uma multidão de homens façanhudos na tentativa trágico-cómica de incentivar a mais violência sobre as mulheres e os jovens que protestam.
A luta das mulheres e dos jovens iranianos é uma das mais importantes do tempo atual. Porque é uma luta pelo respeito da condição humana, por direitos fundamentais e por um mundo minimamente decente.
Com estas atitudes e atuações o regime iraniano mostra-se mais perigoso do que nunca para o mundo. Se matam as suas mulheres por não esconderem o cabelo, o que serão capazes de fazer a outros? Se o seu fundamentalismo não aceita qualquer contestação ou mesmo uma mera reflexão sobre as razões de completo desrespeito pela liberdade das mulheres e pela vida humana e o simples levantamento da questão conduz a uma repressão brutal, o que poderão fazer se tiverem poder nuclear para subjugar outros povos e convicções?