Edição nº 1813 - 11 de outubro de 2023

Antonieta Garcia
VIVA A REPÚBLICA!

I - Durante o século XIX, Portugal tenta acertar o passo com os países europeus. Explicou Eduardo Lourenço: com a geração de Setenta “...nasce a consciência, por assim dizer, física, do que nos separava da maisculada e então orgiástica Civilização”.
Observa mais o sábio beirão: “A um Portugal rude, provinciano, analfabeto, a uma Capital mimética, indolente, medíocre de fazer chorar as pedras, os jovens Eça e Ramalho pretenderam ensinar-lhe tudo – mesmo o que não sabiam...” Queriam construir uma Pátria “que os não envergonhasse nem de que eles se envergonhassem”. A França era o modelo.
A 27 de Fevereiro de 1881, festejando os 80 anos de Victor Hugo (1802- 1885), “estrangeirados” (designação aplicada aos portugueses que, saíram do país, a partir do século XVIII e se esforçaram por divulgar em Portugal ideias iluministas e liberais) sonhavam com “... a fraternização dos povos, da França que universaliza as ideias, da França que se regenera pelas instituições democráticas, a França que fecundou todas as literaturas novilatinas (…) a França que tirou a bem da dignidade humana todas as consequências da era revolucionária (…) essa França que todos nós amamos como o centro da civilização ocidental...” (Teófilo Braga).
O programa dos Republicanos Federais Portugueses entusiasmava estes jovens que contestavam o Trono e o Altar e se deixavam envolver pelo moderno pensamento francês.
Em finais do século XIX, Portugal tinha uma indústria incipiente; vivia maioritariamente da agricultura. A falta de higiene e de civismo dominavam. Portugal apresentava a maior percentagem de analfabetos dos países da Europa Ocidental. Outras qualidades, porém, lhe foram reconhecidas: o país foi felicitado por Victor Hugo pelo humanitarismo demonstrado na abolição da pena de morte. Também o cônsul Batalha Reis afirmava que em Portugal se vivia a maior liberdade no mundo e a legislação mais moderada. Com as fronteiras mais antigas da Europa, possuía um património colonial invejável e as ameaças aos territórios africanos foram uma constante.
II – Nesta conjuntura, que admitiam os portugueses? A 28 de Agosto de 1910, apesar da descrença na Monarquia, os “republicanos” elegiam apenas 14 deputados.
A 1 de Outubro, Lisboa esperava a visita de Hermes da Fonseca, Presidente da República do Brasil, que regressava da Alemanha.
No dia 3, o assassinato de Miguel Bombarda, dirigente republicano notável, às mãos do tenente Aparício Rebelo dos Santos que estivera internado em Rilhafoles e que o médico referido tratara, precipitou a resolução.
Estranheza provocara também o aparecimento do republicano Alberto Adelino Maia encontrado sem vida, no cemitério dos Prazeres. Neste contexto, Cândido dos Reis decide: “A revolução não será adiada; sigam-me, se quiserem. (...) Para a vitória ou para a morte.”
E conta José Relvas que Cândido dos Reis: “…ao romper da manhã, estava morto numa azinhaga - Azinhaga das Freiras - próximo da casa em que se refugiara durante alguns momentos. Suicida-se num acesso de desespero e tendo a visão da tragédia que sucederia à derrota? (…) Ou foi assassinado por algum dos conjurados que se propunham eliminar os principais chefes da Revolução?”
Não havendo provas para alicerçar uma certeza, qualquer das hipóteses permaneceu em aberto, privilegiando os diferentes autores, o ângulo de visão que mais se coadunava com a sua “fé”.
De Miguel Bombarda, sabia-se que era republicano anticlerical; os jesuítas e monárquicos manifestavam claramente a oposição às suas ideias. Em livro, Artur Bívar, um colaborador do jornal A Guarda critica vigorosamente republicanos célebres como Teófilo Braga, Manuel de Arriaga, Borges Grainha, Ginestal Machado, Carlos Cândido dos Reis, Aurélio Costa Ferreira, João Tudela, Eusébio Leão...
A Junta Revolucionária, liderada por Brito Camacho, foi o núcleo civil organizado durante a revolução; estimulava os revolucionários semeando as notícias que interessavam, a cada momento.
Entretanto, em Lisboa, na Rotunda, homens e mulheres defendiam a República.
Às nove da manhã, do dia 5 de Outubro, no Largo do Município, cheio de gente, era proclamada a República Portuguesa. A bandeira verde e vermelha arvorada na Câmara de Lisboa e as que andavam nas mãos de republicanos tinham sido confecionadas por Carolina Beatriz Ângelo, a médica sufragista natural da cidade da Guarda (de quem falámos noutras obras), e Adelaide Cabete, a pedido de Miguel Bombarda.
Foram referidos membros do Governo provisório: o Presidente, lembra-se, era Teófilo Braga. António José d’Almeida, Afonso Costa, Basílio Teles, Correia Barreto, Azevedo Gomes, António Luís Gomes, Bernardino Machado formavam o elenco governativo.
- Viva a República!
Portugal entrara num novo período. Os sonhadores antecipavam promessas, criavam uma maré de esperança, uma vertigem, que a fé nas potencialidades humanas consentia. Por exemplo: “Nesse mesmo dia, e quase à mesma hora, o industrial Grandela punha à disposição do Governo toda a sua fortuna”. (Isabel Lousada)
Um reduzido número de monárquicos, em Alfama e no Quelhas, tentava repor o regime. Foram vencidos. E a aceitação, a simpatia que a República granjeou foi de tal modo surpreendente que perpetuou a frase de João Chagas, quando afirma que ela se proclamara em Lisboa pelas armas e se fizera no resto do país pelo telégrafo!
Sobre o “mundo elegante” escreveu Schwalbach: “Este dispersou-se com o advento da República: uma parte levantou voo; a outra só mais tarde voltou às suas travessuras, mas embiocada para não dar nas vistas”.

11/10/2023
 

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