João Carlos Antunes
Apontamentos da Semana...
MAIS UM NATAL se passou e já temos o ano velho a dar as despedidas. O espírito de natal parecendo que se mantém cada ano, tem contudo novos contextos que o tornam um pouco diferente. Mais do que na comunidade de vizinhos, vive-se numa comunidade criada pelas redes sociais, onde centenas de “amigos”, entre reais e virtuais, trocam votos de festas felizes, quase nunca sabendo do contexto de vida de cada um. Como se a felicidade fosse apenas um caso de caráter pessoal ou familiar e não o resultado das envolventes condições sociais e políticas, diria humanas, próximas ou globais. Apesar do espírito natalício apelar muitas vezes à solidariedade e à consciencialização dos problemas do Mundo, vive-se das casualidades do casulo familiar. Nos telejornais temos jornalistas nas lojas e nos mercados a medir o consumismo. Menos consumo, será sempre a medida da crise. Sem se perguntar se não haverá pelo meio, alguma mudança de hábitos que contrarie a estratégia publicitária de aposta em consumo de produtos supérfluos e que todos os natais surgem nos ecrãs e outdoors, como cogumelos depois das chuvas.
O Natal é cada vez menos um festejo religioso e pagão vivido em comunidade de vizinhos. Mas nas Beiras ainda acontece assim em algumas vilas e aldeias, não tanto nas cidades. Como é o caso dos madeiros que, junto às igrejas, aquecem o Menino Jesus que haveria de nascer na noite do caramelo, que é como nas aldeias se refere ao gelo que resulta das noites geladas. Este é o Menino Jesus das Beiras. Cada latitude terá o seu próprio Menino Jesus. Na minha aldeia, como acredito em tantas outras, ainda é o grupo de jovens e outros nem tanto, que dias antes e principalmente na véspera, vão por esses campos fora, cantando as tradicionais canções de natal, cortar e acartar para o adro da igreja as árvores secas. Sem pedir licença ao dono, porque é para aquecer o Menino. No meu tempo de juventude, esta ida aos madeiros que então se fazia pelo avançado da noite, era também para os mais jovens, uma espécie de cerimónia de iniciação à adolescência e de integração no grupo dos mais velhos. Tudo isto contribuía, tal como ainda agora, para um sentimento de pertença que fortalece o grupo, mantendo a tradição comunitária. Ou alimenta no exterior a imagem da sua terra, como no caso da Vila Madeiro, Penamacor, onde o madeiro extravasa já a tradição como era vivida e se tornou numa atração turística. Diferente do que acontece nas cidades, como em Castelo Branco, onde são os próprios serviços camarários a tratar de que as fogueiras aconteçam. Realisticamente falando, nem poderia ser de outra maneira. Esta é a forma possível de manter a tradição da fogueira de natal, que atrai muitos albicastrenses à sua volta em salutar convívio.
A paz, a segurança e harmonia como se festeja o natal em Portugal não nos pode fazer esquecer que em tantos pontos do Mundo isso não acontece. Infelizmente, são conflitos que, indiferentes aos votos de paz no Mundo, se irão prolongar ainda por meses senão anos, causando morte, dor e lágrimas em muita gente inocente. E nós, teremos de agradecer ao Menino poder festejar o seu nascimento desta forma tão beirã. Em paz e segurança.
E termino desejando a todos os nossos leitores um bom ano de 2024.