Valter Lemos
PISA: OS RESULTADOS DA EDUCAÇÃO EM PORTUGAL
No mês passado foram divulgados os resultados da última edição do PISA (Programa Internacional para a Avaliação dos Alunos) relativos a 2022. Este programa avalia conhecimentos e competências em leitura, matemática e ciências, de jovens de 15 anos de idade. Ocorre de 3 em 3 anos (a última edição deveria ocorrer em 2021, mas devido à pandemia só ocorreu em 2022) sob a responsabilidade da OCDE. Em 2022 participaram 81 países tendo sido avaliados cerca de 690 mil alunos.
O PISA é atualmente o mais conceituado programa internacional de avaliação e tem uma significativa influência nas medidas de política pública de educação em muitos países.
Como seria de esperar face às circunstâncias ditadas pela pandemia, os resultados pioraram na maioria dos países em relação a 2018. Portugal não foi exceção e a queda dos alunos portugueses foi semelhante à da média dos restantes países, ou seja, a posição relativa de Portugal não se alterou significativamente. Portugal está na média da OCDE e situa-se no 29º lugar entre os 81 países. Mas também convirá referir que Portugal até se apresenta ligeiramente acima da média dos países da UE27 a Leitura e a Ciências.
Assim:
-Matemática: 472 (OCDE-472; UE27-472)
- Ciências: 485 (OCDE-484; UE27-481)
- Leitura: 477 (OCDE-476; UE27-469)
Em Portugal os resultados de 2018 para 2022 baixaram mais a matemática (20 pontos) e leitura (15 pontos) do que ciências (7 pontos), mas, em linha ou até um pouco acima das quedas da média dos países desenvolvidos, o que demonstra claramente os efeitos negativos da pandemia na dinâmica educativa.
Observando os resultados de Portugal desde 2000 podemos ver que Portugal progrediu até 2015, convergindo com a média da OCDE, com o maior salto de 2006 para 2009. De 2015 para 2022 os resultados pioraram, mas a convergência com a OCDE manteve-se porque as médias desta também pioraram. E se agora temos a pandemia como uma das explicações mais óbvias, a verdade é que a queda de 2015 para 2018 não tem explicação semelhante.
De qualquer modo é conveniente alertar para o desfasamento temporal das políticas e dos resultados em educação. Os alunos testados em 2022 tinham iniciado a escolaridade em 2013, os testados em 2018 iniciaram em 2009 e os avaliados em 2015 (ano dos melhores resultados) iniciaram a escola em 2006.
Para uma avaliação minimamente rigorosa e eficaz das políticas é obviamente indispensável ter em conta tais períodos temporais e circunstâncias respetivas. Relacionar os resultados em educação com medidas de política imediatamente contemporâneas é, objetivamente, uma simples aldrabice.
O PISA para além da avaliação dos desempenhos em Matemática, Leitura e Ciências, analisa também diversos outros aspetos da vida escolar que permitem ajudar a interpretar melhor as circunstâncias dos resultados e são informação de grande utilidade quer para as políticas de educação, quer para o trabalho pedagógico das escolas e também dos pais.
Dos resultados de 2022 podemos assim observar ainda, entre muitos outros os seguintes dados:
- Na matemática e ciências os alunos com mais elevados níveis de desempenho são maioritariamente rapazes e na leitura são raparigas;
- O estatuto socioeconómico e cultural das famílias continua a mostrar uma correlação elevada com os resultados dos alunos. Os 25% de alunos de estrato socioeconómico e cultural mais elevado, pontuaram, em média, mais 101 pontos em matemática, 92 em ciências e 89 em leitura do que os 25% de alunos de estrato socioeconómico e cultural mais desfavorecido;
- Não há diferenças estatisticamente significativas nos resultados entre escolas públicas e privadas;
- Os alunos portugueses têm um elevado sentido de pertença à escola (superior à média da OCDE). 82% afirmam que sentem fazer parte da escola;
- Apenas 5% dos alunos afirma sofrer de bullying com frequência;
Os resultados do PISA 2022 não são realmente muito entusiasmantes para os países da OCDE, entre os quais Portugal e revelam que nos últimos anos os sistemas educativos não só não melhoraram como até pioraram em alguns aspetos, ainda que estejamos longe da tragédia anunciada pelos populismos de ocasião que varrem as sociedades desenvolvidas. No entanto, acendeu-se, sem dúvida, uma luz amarela que deverá merecer muita atenção, quer no desenho das políticas públicas de educação, quer na ação das escolas e das famílias.