Edição nº 1860 - 11 de setembro de 2024

Antonieta Garcia
EM TEMPO DE TRANSUMÂNCIA

Olho para as mãos das minhas amigas e vejo como as mãos envelheceram muito! A vida esgota-se assim, e recria-se nas veias e nos dedos pensativos que amassam, tantas vezes, objetos ausentes. Por onde ficam as obras-primas dos trabalhos manuais?
Têm cabelo baço, esbranquiçado, mas ainda se ouve um português esfarrapado com uma lista de sons rara, diferentes, sozinhos.
- Hoje vesti-me de verde para festejar a cor maior da serra mãe. Estou tão cansada do preto, triste... Que fazer? É a cor do coração! As folhas são joias que gostam das árvores sedutoras e que os guardiões da Gardunha sabem guardar.
Outono à vista, as divinas cascatas abrem com chaves de ouro milhares de brisas e sopram milhares de ventos que só eles sabem...
E como “inventam “coreografias e animam os chãos jovens e velhos, guardadas a sete chaves na alma, que é nossa e de todos!
O pecado ronda, malandro, o coração das raparigas; a palavra canta – ra-pa-ri-ga -e como dança, é brincalhona, é feliz e vive! Saem ao caminho, de manhã! E cantam, caminham apressadas, pela alvorada. Sentem e comentam:
- Mé, méeee. Mé, méeee...
- Ai que lindos, que doçura, que ternura, que amor... Aos mais pequeninos há festinhas recíprocas...
O aroma das plantas é monumento da alma das montanhas a embalar o corpo para o sono.
- Não posso comer sem dar-te, / Nem beber sem dar a ti / Nem fazer a minha cama, / Sem dizer: Deita-te aqui. //
Hoje vesti-me de verde, pastora desde manhã; abriu há pouco a luz do sol que festeja cânticos seculares. Saltam aos olhos.
As palavras desequilibradas, sem tom, nem som, agarram-nos. O fantasma de granito, no cimo do monte, traja o fato guerreiro e guarda o território e os encontros:
- O beijo que tu me deste / Nunca mais me há de esquecer / Inda tenho a boca doce / Inda me está a saber. //
Juras de amor? Bolotas, mel, castanhas... quem não gosta? Na pedra enorme, há janelas escancaradas, atrevidas, em todos os lados...
Agora, sentimos bem, têm memórias que as mãos desenharam e as veias se mostram arrefecendo em tons de roxo-esverdeado... Lágrimas...
Esperam-nos os Anjos que hão de chegar e acompanhar as encruzilhadas que se abrem a cada amigo maior. Temos medo e tapamos os olhos curiosos dos amigos do peito.
Há uma esperança do que é bom. O santo homem, o guerreiro de Paz, fecha os olhos... Fica a sonhar? A guerra atordoa, veste-se muito cedo, de madrugada. Na TV, há vidas cansadas. Estamos enfartados de comentadores. Na Serra, não os vemos. Diz-se que houve um poeta que roubou pedaços de luz à lua e a ofereceu aos companheiros, atordoados. Voam de alegria? A cor é a alegria. A mãe terra ou a serra mãe oferece-nos o pastoreio da liberdade, sem sombra, nem solidão. Não estão sós os que querem a paz.
Bendita seja a Gardunha.

11/09/2024
 

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