Maria de Lurdes Gouveia Barata
ABRIL: O 25 DE ABRIL E OS PINGUINS
Falar de Abril é exprimir, principalmente, aqueles sentimentos bons que da Primavera emanam, porque vestida de verdes salpicados de muitas cores, exalando perfumes da terra que se abre à fertilidade e à esperança. Abril é mês com vida e mês da vida que se revela em beleza pelo renascimento. Apesar de «Abril águas mil» (que este ano se vai concretizando), há um desabrochamento cumprindo promessa de tradição.
Se começo por registar o nome Abril, deve-se ainda, e muito, à gratidão dos portugueses que viram a cor da liberdade (como disse Jorge de Sena «não hei-de morrer sem saber / qual a cor da liberdade»). Já passaram 51 anos desde 1974, desde o que disse Sophia de Mello Breyner Andresen sobre esse 25 de Abril feliz: «Esta é a madrugada que eu esperava / O dia inicial inteiro e limpo / Onde emergimos da noite e do silêncio / E livres habitamos a substância do tempo», que surgiu por tantas ânsias do desejo de livrar-se duma ditadura com a dureza, que muitos ainda agora vivos conheceram e que foram transmitindo a filhos e netos, embora, em abono da verdade, muitos jovens pensem que há exagero no que ouvem do chamado tempo «da outra senhora».
Ora foi por acaso que descobri outro 25 de Abril comemorativo: é data em que se instituiu o Dia Mundial do Pinguim. A descoberta deu-se por causa das tarifas aplicadas pelo famigerado Donald Trump às ilhas da Antártica, Heard e McDonald, só habitadas por pinguins. São territórios externos da Austrália, a cerca de 4000 Km de distância, sendo possível chegar de barco, durando a viagem à volta de duas semanas, a partir do porto australiano de Perth, segundo informações do jornal The Guardian. Deduz-se que as actividades humanas sempre foram limitadas, devido ao grande isolamento e às condições meteorológicas e marítimas severas. Daí que o primeiro-ministro australiano, Anthony Albanese, dissesse que este acto insólito prova que “nenhum lugar do mundo está a salvo”. Tive curiosidade em pesquisar sobre os pinguins e vou partilhar algumas das informações, porque foi assim que descobri que o dia 25 de Abril é o Dia Mundial do Pinguim. O objectivo do dia é promover a conservação desta espécie animal, ameaçada pelas mudanças do clima, à semelhança do Homem, pela poluição, sendo que o aquecimento global os afecta especialmente, pois dependem do gelo para se alimentar e se reproduzir. Os pinguins das Ilhas Galápagos e os pinguins de olho amarelo são as raças que se encontram mais perto da extinção. Porquê o 25 de Abril? Por ser neste dia que se verifica a migração anual dos pinguins na Antártica para o norte.
Que Donald Trump é ignorante já todos devem ter reparado, que procede com demência e toma decisões absurdas também é visível. No entanto, comecei a pensar por absurdo: será que os pinguins, estas aves marítimas que não voam e que se apresentem na elegância dos seu traje preto e branco atraem o Donald ou ele começou a perspectivá-los como adversários comerciais? Poderá haver outra hipótese, mas antes vou contar uma anedota alentejana, como costuma designar-se, embora eu pense que é inexplicável a designação, pois essas narrativas podem relacionar-se com características de muitos outros homens. Então conto:
Um alentejano, que morava numa casa à beira da praia, encontra um pinguim à sua porta e fica espantado. Sem saber o que fazer, pergunta ao seu vizinho Joaquim:
- Ó Quim, este animalzinho apareceu de repente à porta de minha casa! O que devo fazer com ele?
- Ó Manuel, pega nele e leva-o ao jardim zoológico!
- Mas que óptima ideia, Joaquim! Obrigado!
No dia seguinte, o Joaquim vê o Manuel a chegar a casa. Levava o pinguim com uma coleirinha no pescoço.
Admirado, pergunta ao vizinho:
- Ó Manuel, que diabo estás a fazer com este pinguim? Não o levaste ao jardim zoológico?
E o Manuel, sorridente:
- Levei sim e ele adorou! Hoje, vou levá-lo ao cinema!
Pois bem: lembrei-me da anedota e inspirou-me para conjecturar sobre as intenções do narcisista Trump: será que pensa numa visita às ilhas dos pinguins ou mandar ir à América um grupo que os represente para lhes mostrar a América Dourada que está a construir, tornando-os assim seus adeptos e possíveis votantes? Tudo é possível com este auto-proclamado Rei!
Na pesquisa motivada pelos pinguins encontrei referência ao comportamento agonista destas aves marítimas (que não voam, mas têm corpos aerodinâmicos com asas modificadas para formar nadadeiras rígidas e planas, que promovem uma boa propulsão no nado). Esse comportamento agonista inclui todas as actividades associadas à luta, sejam as agressivas, com a intenção de assustar ou confrontar outros indivíduos, sejam as defensivas, usadas para evitar o conflito – bicadas, mordidas ou utilização das nadadeiras rígidas para bater. Será aconselhável que Trump saiba disto.
Todavia, Abril aí está com o sol dourado da liberdade e os verdes da teimosa esperança. Como diz Torga num poema homónimo (Diário X):
ESPERANÇA
Quero que sejas
A última palavra
Da minha boca.
A mortalha de sol
Que me cubra e resuma.
Mas como à despedida só há bruma
No entendimento,
E o próprio alento
Atraiçoa a vontade,
Grito agora o teu nome aos quatro ventos.
Juro-te, enquanto posso, lealdade
Por toda a vida e em todos os momentos.
A Esperança que vai alimentar a Liberdade, a Igualdade e a Fraternidade.