Edição nº 1900 - 18 de junho de 2025

João Carlos Antunes
Apontamentos da Semana...

O MUNDO ESTÁ MUITO PERIGOSO, está mesmo muito perigoso. Seguindo o lema da TSF, diríamos que temos de ir até ao fim da rua, sem esquecer o fim do Mundo, o mesmo é dizer que entre o que nos está próximo e o mais distante, encontramos motivos de reflexão e explicação para tanta coisa ruim estar a acontecer em tanto lugar ao mesmo tempo. Tempos de desumanização, divisão, ódio e exclusão.
Os resultados das últimas eleições deram mais força e visibilidade aos extremistas, traduzidas por ações que se sucedem com uma frequência preocupante. No dia de Portugal atacam a cultura (não serve para nada, é coisa de esquerdalha), na pessoa do ator Adérito Lopes, da companhia de teatro A Barraca, barbaramente agredido por um jovem, membro de um grupo liderado por um dos autores do assassinato de Alcides Monteiro há 30 anos. No mesmo dia, nas cerimónias de homenagem aos antigos combatentes, o Sheik David Munir, líder da comunidade muçulmana, foi vítima de insultos racistas e xenófobos por um grupo de neonazis. Tão português como o candidato Gouveia e Melo, que estava ao seu lado no palanque, ambos nasceram em Moçambique. Enquanto escrevo estes apontamentos, corre em rodapé na SIC Notícias a notícia de que este grupo agrediu a um homem no centro de Lisboa. Ontem, as vítimas foram mulheres que ajudavam sem abrigos no Porto. Membros do governo e até do Chega lamentam: condenamos, mas… comparando o incomparável, a violência da extrema direita com a da extrema esquerda. É esta desculpabilização e a relativização destes atos que dão força à direita mais radical e violenta.
Já agora, contabilize-se os casos de violência perpetrados por estes grupos neonazis e os casos de violência provocada por imigrantes e tire-se a única conclusão possível: afinal onde residem as causas da perceção da insegurança e dos fenómenos de violência tão propagandeados?
Estranho seria, se o notável discurso de Lídia Jorge nas comemorações do Dia de Portugal e Camões, fosse do agrado dos defensores da raça pura e de um Portugal de portas fechadas, dos que semeiam os ódios e o medo. Ela encerrou a sua intervenção, lembrando (se tal fosse necessário num povo culto, conhecedor da sua História) que aqui ninguém tem sangue puro, que cada um de nós é uma soma, tem sangue do nativo, do migrante, do europeu e do africano, do branco e do negro e de todas as outras cores humanas.
Hoje ficamo-nos pela nossa rua, que o espaço não dá para mais. O olhar sobre o Mundo, ficará para a próxima.

18/06/2025
 

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