Edição nº 1906 - 30 de julho de 2025

João Carlos Antunes
Apontamentos da Semana...

CONFESSO QUE JÁ TENHO SAUDADES da silly season, literalmente traduzido será a “época das palermices”, do tempo em que os media, verão adentro, com a política de férias, preenchiam páginas com os estivais questionários de Proust, oportunidade para ficarmos a conhecer mais intimamente os famosos inquiridos. Ficávamos a saber deles os ódios e os amores e, também os livros que iam levar para férias, a ler na praia à sombra do guarda sol, com o Ulisses de James Joyce (o livro mais citado e menos lido de sempre) a ganhar o top. Enchiam-se as páginas ou os noticiários com curiosidades, notícias leves, frivolidades, fotografias de políticos e artistas na areia, a exibir bons peitorais e corpos bem desenhados, de fazer inveja aos que continuavam a labuta diária, a contar os dias para também irem a banhos, ou não… talvez se ficassem pela visita à família que continuava a viver numa qualquer aldeia perdida do Interior, com festas de verão e combate a incêndios a animar as férias.
Agora o mais próximo que tivemos de silly season poderá ter sido os Anjos contra a humorista Joana Marques na barra do tribunal, com pedido de indemnização de um milhão e alguns trocos. Ou a novela da transferência do Gyokeres, a justificar horas de televisão com especialistas a comentar o enredo e desenlace.
Reafirmo que tenho saudades de uma boa silly season porque significaria que em Portugal e no Mundo não ocorria nada de especial capaz de quebrar a pacatez e dormência estival. Mas agora há tanta coisa ruim a acontecer em tantos lugares, ao mesmo tempo que não resta espaço para apontar às palermices, tirando as de Trump, que todos os dias faz declarações ou tem comportamentos tão pueris que são fonte inesgotável para os humoristas e que seriam risíveis não estivesse em causa a democracia americana e o quotidiano de todos nós. Na silly season não cabe um Putin a gozar com as fanfarronices de Trump, enquanto continua a destruir e a matar na Ucrânia. Também não cabem as imagens de uma Gaza arrasada e a completa desumanização da guerra com a fome como arma, fome que só nos últimos dias matou mais de uma centena de crianças palestinianas. Ainda lembramos dos tempos em que na Europa nos julgávamos em paz eterna, protegidos pelas instituições internacionais e pelas democracias.

30/07/2025
 

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