16 outubro 2013

Maria de Lurdes Barata
O TEMPO… E OS TEMPOS…

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O Outono está doce e azul, meteorologicamente falando, com temperaturas amenas, céu limpo ou com um ou outro farrapo de nuvens esparsas, ar lavado por aqueles dois dias de chuva que fizeram espevitar a vegetação e as árvores, convidando a passeio pelas ruas da cidade com brisa sossegada, escorrendo do firmamento uma tranquilidade que chega a ser terna. Este tempo meteorológico ajuda a levantar o ânimo e convida a repousar os olhos nas rosas tardias de pequenos jardins…
Estaria implantado um cenário de paz, se… Esta condicional se estraga tudo e perturba qualquer olhar que procura a Natureza imersa nesta doçura outonal. Continuo no se, a falar de tempo: se não fossem estes tempos que inscrevem preocupações e medos no quotidiano vivido em Portugal, com assustadores anúncios de medidas de austeridade, ainda mais medidas de austeridade, inesperadas, são inesperadas sim, embora a prestidigitação verbal do primeiro ministro fale de medidas já anteriormente anunciadas… Uma explicaçãozinha para o senhor primeiro ministro, dando prova dessa prestidigitação: em Abril ou Maio anunciou que haveria mais cortes nos pensionistas. É verdade. Contudo, vamos a dois hipotéticos exemplos de desenvolvimento da expressão: haverá x% de imposto sobre reformas a partir de 4000 Euros; haverá imposto sobre as reformas de sobrevivência por viuvez quando acumulada com outra… O senhor primeiro ministro não entende a novidade das medidas? Como os portugueses ficaram surpreendidos, só podemos tirar a conclusão da pouca inteligência dos portugueses. Todavia, deu um exemplo esmagador, por frequência de caso, perante as câmaras de televisão: então acham bem que uma pessoa tenha uma reforma de 4000 Euros e receba, por viuvez, outra reforma de 4000 Euros? Um exemplo oportuno e inteligente.
O imposto sobre essas pensões (mesmo que não sejam para sobreviver…) quebra um contrato celebrado há anos (mas só os contratos das PPPs são inquebráveis), incentivando mais revolta e desesperança pela redução de qualidade de vida e diminuição de poder cumprir compromissos, invadindo-nos uma raiva, mas impotente. Não sei se este senhor primeiro ministro tem conhecimento dos descontos feitos pelos portugueses para a reforma de viuvez: eram feitos descontos (para essa reforma de viuvez do cônjuge) para o Montepio dos Servidores do Estado; a partir de 1993 (com a extinção do Montepio dos Servidores do Estado) esses descontos continuaram, e continuam, a ser feitos, mas integrados nos da Caixa Geral de Aposentações. Desconta-se o que o Estado calculou que devia ser descontado. Assim, não abafemos a capacidade de exprimir a indignação, direito que nos assiste e que é uma maneira de não nos deixarmos ir com o tempo…
O vice-primeiro ministro falou gloriosamente da queda da TSU dos pensionistas, mas todos lhe descobriram a máscara pouco tempo depois. O empobrecimento defendido por Passos Coelho, para crescer a seguir, não atingiu este último objectivo e cai no vazio da vida social portuguesa cada vez mais deteriorada. A inevitabilidade das medidas anda na boca dos governantes e dos grandes empresários e dos banqueiros, que apenas perspectivam a hipótese de acrescentar mais lucros aos lucros. As mensagens, prenhes de efeito de desesperança, são chuva torrencial nos nossos dias de sol de Outono. O cansaço instala-se nas nossas vidas. As palavras são um punhal, continuam corrosivas e demolidoras em nome do sentido da realidade (uma realidade vista unilateralmente, só a ostentar-se para fora de Portugal), insistindo-se como em música rap: inevitabilidade, empobrecimento, austeridade, enquanto um comentador de segunda-feira acrescenta à canção: Portugal de cangalhas, Isto não tem saída…
Sai-se para mais cortes, seja na função pública, seja nos já habituais dadores, os pensionistas, os inúteis dos mais velhos. Velhos são os trapos – dizia-se com acrimónia e orgulho. Mas neste tempo parece impor-se a frase com a pequena diferença do determinante artigo definido: velhos são trapos.
O tempo é de consumição apesar do tempo, ali na rua, a beijar-nos de sol e azul…

16/10/2013
 

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