4 Setembro 2013

Comandante Operacional Distrital do CDOS diz que falta de formação é uma falsa questão
“Nenhum sistema de defesa contra incêndios funciona se não tiver a colaboração permanente das pessoas”

Incendio.jpgO Distrito de Castelo Branco registou no período compreendido entre 1 de janeiro e 31 de agosto, um total de 370 ocorrências de incêndios florestais.
O Comandante Operacional Distrital do Comando Distrital de Operações de Castelo Branco (CDOS) considera que se continua a registar um elevado número de ocorrências de incêndios florestais.
Em declarações à Gazeta do Interior, Rui Esteves sublinha que é importante diminuir esse número de ocorrências, porque “se isso não acontecer, eles têm de ser combatidos. Ao combater um incêndio é sempre uma batalha muito desigual, contra um inimigo que só ataca e nunca defende”, refere aquele responsável.
Contudo, Rui Esteves diz que importa desmistificar e esclarecer muita da discussão que surge em torno dos incêndios florestais. E, neste sentido explica que em relação a esta circunstância, a Autoridade Nacional de Proteção Civil (ANPC), apenas tem responsabilidades em relação ao pilar do combate aos incêndios.
“Não tem responsabilidades sobre a prevenção estrutural ou a prevenção operacional, isto é, a prevenção estrutural é da responsabilidade do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNB) e a responsabilidade operacional é da responsabilidade da Guarda Nacional Republicana (GNR)”.
Posto isto, o Comandante Distrital Operacional do CDOS de Castelo Branco, diz mesmo que “quando um dia os restantes pilares da defesa da floresta contra incêndios se empenharem tanto quanto o combate, também nós (ANPC) passaremos tão despercebidos quanto eles”.
Rui Esteves explica ainda que ao nível do planeamento e do trabalho feito ao longo dos anos no Distrito de Castelo Branco, “há claramente uma redução não muito significativa em relação ao número de incêndios florestais. Diria que estabilizamos o número de incêndios. Em 2006, o Distrito teve 611 ocorrências. No ano seguinte, registou 418 e em 2008, foram verificadas 581 ocorrências. A partir daí começou a decrescer o número de ocorrências. Em 2009, foram 504; 2010, 420; 2011, 318 e em 2012 (457 ocorrências) houve uma ligeira subida que teve a ver com os incêndios verificados nos meses de fevereiro e março”.
Com o pragmatismo que se lhe reconhece, Rui Esteves diz, no entanto, que a grande questão que se coloca é que “continuamos a ter muitos incêndios florestais e com um comportamento muito severo, diria mesmo com consequências catastróficas”.
Isto porque, segundo aquele responsável, continua a verificar-se que existe na floresta uma falta de ordenamento e de compartimentação. “Não quero dizer com isto que a floresta deve estar toda, ao milímetro, limpa. Tem que estar ordenada, organizada e compartimentada. Isto para que ao existir um incêndio saibamos que há condições para proteger determinados espaços, apenas arde uma determinada área”, explica.

Não há compartimentação da floresta
O Comandante Distrital Operacional do CDOS de Castelo Branco diz que aquilo que se verifica ao nível da floresta do Distrito de Castelo Branco é uma continuidade horizontal e vertical que vem de Vila de Rei, o início a Sul do Distrito, e se estende até Belmonte. Isto é, “não há compartimentação que é aquilo que existe nas florestas ordenadas e organizadas”, refere.
Contudo, existe uma outra situação que segundo Rui Esteves “é muito complexa” e que tem a ver com a “promiscuidade entre o espaço rural e o edificado, que contribui decisivamente para uma dificuldade na extinção dos incêndios e para a perda acelerada e gravosa de pessoas e bens. O facto de os perímetros das aldeias, os perímetros dos aglomerados populacionais continuarem a não estar limpos” é uma situação extremamente preocupante. Enquanto estas situações continuarem a proliferar sem que haja a preocupação de ter um perímetro de segurança à volta dos agregados populacionais e sem que haja também uma intervenção direta dos cidadãos, no sentido de se prevenir e de proteger os seus próprios bens, “o problema dos incêndios florestais será sempre muito complexo”, refere Rui Esteves, acrescentando que “os bombeiros, numa primeira intervenção, o que é que fazem? Protegem as pessoas e a seguir os seus bens. Só depois é que fazem o combate. E é evidente que se não estão a fazer o combate, é natural que o incêndio tome algumas proporções. Isso, associado às condições atmosféricas, cria sempre situações muito complexas”.
Por outro lado, sublinha que “a nossa maior ameaça é assumir que o problema dos incêndios florestais está resolvido. Enquanto não houver, por parte do cidadão, um comportamento de segurança em relação aos seus próprios bens, naturalmente que esta situação será sempre mais complexa. A situação torna-se ainda mais complexa sempre que tenhamos situações meteorológicas extremas, juntamente com o ordenamento inexistente na floresta. Tudo isto, aumenta claramente o risco potencial de grandes incêndios”, refere.
Em relação às responsabilidades daquilo que se verifica no terreno, Rui Esteves é peremptório em dizer que não lhe compete estar a responsabilizar seja quem for.
“A Lei é muito clara e atribui competências e responsabilidades a cada uma das entidades e também em relação aos cidadãos. E o que importa aqui clarificar não é apontar o dedo, mas antes perceber que o cidadão tem aqui um papel muito importante de se proteger e de proteger os seus bens. Isso é claramente a questão mais importante de momento e perceber que o cidadão comum tem que ter um comportamento adequado”. É que segundo o Comandante Distrital Operacional do CDOS de Castelo Branco, “grande parte dos incêndios tem responsabilidade no comportamento humano desadequado em relação ao espaço em que está inserido. E enquanto esse comportamento não for ajustado, naturalmente que teremos sempre aqui um problema grave para resolver”, refere.

Castelo Branco tem os meios planeados
Rui Esteves deixa bem claro que “nenhum sistema de defesa da floresta contra incêndios funciona se não tiver a colaboração permanente das pessoas”. Neste sentido, diz que cada cidadão deve assumir claramente a defesa da floresta contra incêndios como um desígnio nacional que passa por todos e cada um de nós. “Só assim é possível garantir a proteção da população e a defesa da floresta. Se assim não for, continuaremos a ter situações muito, muito complexas”, conclui.
O Comandante Distrital Operacional do CDOS diz mesmo que “não há dúvida de que a maioria dos incêndios tem responsabilidade no comportamento humano desadequado”.
Por outro lado, deixa uma palavra de apreço e realça o esforço que a GNR e a Polícia Judiciária (PJ) têm feito no Distrito de Castelo Branco, no sentido de apurar os principais responsáveis dos incêndios florestais e que já levou à detenção de diversas pessoas consideradas responsáveis por incêndios no Distrito.
Além disso, sublinha a importância do trabalho efetuado pelas forças de segurança, uma vez que “só sabendo as verdadeiras causas podemos efetivamente intervir na solução dos problemas”.
No que diz respeito aos meios disponíveis para o combate aos incêndios florestais no Distrito de Castelo Branco, Rui Esteves diz taxativamente que “o Distrito tem os meios que efetivamente num processo de planeamento, planeou. Não houve aqui nenhum corte. Mais, os comandantes dos corpos de bombeiros têm um dispositivo terrestre de meios humanos face àquilo que foi indicado como sendo as suas necessidades. Isto é, do ponto de vista do planeamento, das necessidades e também daquilo que é a possibilidade de resposta da organização de cada um dos corpos de bombeiros, têm os meios que solicitaram”, sublinha.
Refira-se que no planeamento efetuado para o Distrito de Castelo Branco, estão incluídos 684 operacionais, apoiados por 146 veículos o que perfaz um total de 1.422 equipas, desde bombeiros, GNR, PSP, INEM, sapadores florestais e equipas municipais de incêndios florestais que alguns municípios criaram e que segundo Rui Esteves, com excelentes resultados.
Além disso, sublinha ainda a existência da rede nacional de postos de vigia que no Distrito inclui um total de 21 postos a funcionar na sua plenitude.
O Comandante Distrital Operacional reforça ainda o facto de o Distrito que no passado dispunha de três helicópteros, este ano conta com quatro helicópteros, tendo substituído um helicóptero médio, por dois ligeiros que têm tido um desempenho muito eficaz no combate aos incêndios logo no seu início.

Formados em dois anos 1.600 operacionais
Outro dos temas de que muito se fala tem a ver com a formação dos operacionais. Em relação ao Distrito de Castelo Branco, Rui Esteves explica que nos últimos dois anos foram formados cerca de 1.600 operacionais, além de sublinhar que este percurso tem sido feito ao longo dos anos.
Por outro lado, sublinha que as ações têm sido efetuadas numa vertente exclusiva com treino operacional e como oportunidade de melhoria no combate aos incêndios florestais.
“Estas ações de treino, realizadas no terreno e em sala, foram diversificadas. Desde a operacionalização de máquinas de rasto em incêndios florestais da qual o Distrito foi pioneiro na formação e utilização (o primeiro curso que existiu no País para bombeiros no âmbito de máquinas de rasto, foi ministrado no Distrito, no Concelho de Oleiros, em parceria com o município local), formação em técnicas de combate com ferramentas manuais, condução de veículos de intervenção fora da estrada, formação no âmbito do sistema de gestão de operações, utilização da rede de rádio, utilização de ferramentas mecânicas (motosserras e motoroçadoras), de tudo um pouco se incluiu”, refere o Comandante Operacional Distrital do CDOS, considerando que quando se fala em falta de formação, “trata-se de uma falsa questão no Distrito de Castelo Branco. Hoje nos nossos bombeiros têm uma formação adequada”, refere.

Presidente da ANPC elogia BAL de Castelo Branco
O Comandante Distrital Operacional do CDOS de Castelo Branco considera a recém-inaugurada Base de Apoio Logístico (BAL) de Castelo Branco uma mais valia, “não só para o Distrito, mas também para o País”.
Rui Esteves refere que a BAL, tem permitido a nível nacional, que meios que passam por Castelo Branco, “tenham condições de excelência” ao seu dispor.
Por outro lado, destaca a importância que a BAL irá ter futuramente ao nível das ações de formação que o Distrito pretenda efetuar.
Rui Esteves recorda ainda a opinião do presidente da ANPC, expressa na publicação mensal do PROCIV, o boletim da ANPC, onde Manuel Mateus Couto considera a BAL de Castelo Branco “um recurso de proteção civil de excelência no País e que se apresenta projetada e dimensionada para dar apoio a equipas de proteção civil em deslocação e com intervenção ao longo de todo o território continental”.

Carlos Castela

04/09/2013
 

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