João Belém
A Criatividade e o Trabalho Colaborativo
“Criar é, basicamente, formar. É poder dar forma a algo novo. Em qualquer que seja o campo de atividade, tratam-se, nesse ‘novo’, de novas coerências que se estabelecem para a mente humana, fenômenos relacionados de modo novo e compreendidos em termos novos. O ato criador abrange, portanto, a capacidade de compreender: e esta, por sua vez, a de relacionar, ordenar, configurar, significar” (Ostrower, 2004).
Segundo esta perspetiva, é cada vez maior a importância das capacidades cognitivas e dos aspetos afetivos e emocionais na criatividade, pois é através delas que o professor usa a imaginação para combinar ideias ou informações de maneiras novas, formula e testa novas hipóteses, faz a transposição entre diferentes representações semióticas (análise e entendimento de símbolos, gráficos, etc.) e torna-se capaz de dominar técnicas de aprendizagem que permitam avançar em situações desconhecidas.
Em relação aos aspetos afetivos e emocionais, a pessoa criativa é intuitiva, tem perceção aguçada e é sensível aos problemas, é tolerante com as diferenças, possui intensos interesses simbólicos, aprecia o risco, é empreendedora, possui autoconfiança, espontânea e confiante na interação social e recetiva em relação a novas ideias.
É interessante observar que assim, de acordo com Yunes e Szymanski (2001), ao aliarmos diferentes aspetos da criatividade, verificamos que apenas sob a dependência de características do “ser resiliente”, os mesmos podem ocorrer.
A noção de resiliência tem origem na Física e na Engenharia e nessa área é associada à capacidade máxima de um material de suportar tensão sem se deformar de maneira permanente. Mas devemos também ter em conta que tem sido também usada de uma maneira mais abrangente para significar uma habilidade pessoal de voltar ao estado normal de saúde ou de espírito após períodos de doenças ou dificuldades de qualquer tipo.
Neste sentido, é na articulação entre a capacidade da pessoa criativa de inovar, de ser flexível, de associar ideias de diferentes formas e de ser persistente e a capacidade de se tornar resiliente que buscamos na aceitação do grupo a chave para o desenvolvimento de professores mais sensíveis e mais equipados para agir na transformação e inovação do ambiente cultural.
“(...) implica novas formas de trabalhar em equipe, de assumir riscos, de ser pró-ativo, de utilizar as novas ferramentas tecnológicas, de identificar necessidades próprias de formação e possibilidades de complemento de formação. Isto pressupõe um perfil de formação inacabado, um conceito de formação permanente, contínua, especializada, em ação” (Alarcão, 2001).
Neste sentido o trabalho colaborativo estabelecido em termos de igualdade de condições baseado na lealdade e na confiança recíprocas - é alternativa não só para a formação e a prática investigativa dos professores como também fortalece as relações interpessoais.
Em resumo posso referir que como grande parte dos professores não vive em situação adequada para o desenvolvimento de seus trabalhos nem de si próprios, deve implementar-se o trabalho colaborativo, em grupo, nomeadamente em “espaços de criação” para que, dentre outros saberes, ser resiliente e ser criativo sejam posturas aprendidas sempre numa perspetiva inter e transdisciplinar.