Fernando Raposo
Um dia, quem sabe, conhecer-se-á melhor a história do Banco e do Grupo Espírito Santo
Em Novembro de 2008, Teixeira dos Santos, Ministro das Finanças de então, anunciava a nacionalização do Banco Português de Negócios (BPN). A justificação era, na altura, entendível: O BPN acumulara perdas de 700 milhões de euros e não se vislumbrava qualquer solução que acautelasse os interesses dos depositantes. O PSD e o CDS vociferavam contra o Banco de Portugal, por não ter “vigiado” as contas, enquanto os “assaltantes”, alguns deles figuras gratas do PSD, eram tratados a “chá e torradas”. Passados que são quase seis anos, pouco ou nada se sabe sobre o assunto. Ninguém está preso e os prejuízos que transitaram para a conta dos contribuintes ascendem a vários milhares de milhões de euros.
Como referia alguém, com tanta eloquência quanta presunção, da mesma classe daqueles que levaram o BPN ao “charco”, o povo aguenta, “ai aguenta, aguenta!....”
Talvez, …
Agora que a troika levantou amarras, passados que foram três anos de aperto, nada no país ficou melhor. O saldo é agora bem mais negativo. Nenhuma das metas previstas no memorando foi atingida. A economia foi estilhaçada, o desemprego atingiu valores nunca previstos, muitos dos nossos jovens, talvez a geração mais qualificada, foram empurrados para fora, a dívida atingiu valores incomportáveis e as prometidas reformas continuam eternamente adiadas. Impotente e sem imaginação, o governo recorre à mesma solução de sempre: “carregar” nos impostos e reduzir os serviços que presta.
Com a festança que Portas fizera a pretexto da saída da troika e a euforia de Passos sobre tão “limpinha saída”, tudo levava a crer que a casa ficara arrumada, pelo menos no que à banca diz respeito. Os homens da troika, vigilantes e de ar sisudo, tinham trazido “resmas “ de milhares de milhões de euros para acautelar a robustez da banca.
Apesar de o semanário “Expresso” ter alertado em devido tempo, ainda ao tempo em que a troika por cá andava vigilante, de que havia “marosca” nas contas e o “Fundo Espírito Santo Liquidez, estava demasiado exposto à divida do Grupo Espírito Santos” (Ricardo Costa), ninguém lhe deu ouvidos. Talvez Passos até soubesse e não quisesse que tão imprevisível fragilidade do maior banco privado português manchasse a saída da troika, que desde sempre ele quisera limpinha.
Um dia, quem sabe, conhecer-se-á melhor toda esta história.
Contudo, pelo que se vai sabendo, os contornos em que se movimentou o Banco Espírito Santo e o presumivel desfecho, em termos de consequências para a credibilidade do país e outras, não parecem muito diferentes, dos casos já conhecidos.
Exposição excessiva dos bancos à dívida de clientes e empresas amigas ou familiares, sem as correspondentes garantias, falsificação ou ocultação de contas e falta de transparência.
No que se refere ao Banco Espírito Santo, “a exposição directa às empresas do GES é de 1,5 mil milhões euros” e “que o banco foi utilizado para financiar directa e indirectamente o grupo em mais de 4 mil milhões” (João Vieira Pereira, expresso, 12/07). A exposição do BES ao Banco Espírito Santo de Angola, de que é o maior accionista, fragilizam-no ainda mais. Ao que consta o BESA perdeu o rasto a cinco mil e tal milhões de dólares. Não é coisa pouca.
É ainda prematuro saber qual o montante das perdas do BES, mas que ele terá consequências desastrosas para a economia e credibilidade do país, e para a vida de muitos portugueses, isso já ninguém poderá ignorar.
Perante o comportamento abusivo, imoral e pouco ético de muitos dos nossos banqueiros, cujas palavras que Ricardo Salgado usara para acusar Filipe Pinhal (ex-Administrador do BCP), “… que pôs em causa a credibilidade do sector e do país; e que envergonhou todos aqueles que empenharam as suas vidas…” (citado por Pedro Santos Guerreiro, expresso, 12-07) e que lhe assentam como uma luva, admitir a possibilidade de privatizar a Caixa Geral de Depósitos, única instituição financeira pública, é já por si um insulto aos portugueses que têm sido as vítimas dos desmandos de alguns dos bancos privados.