19 de agosto de 2015

Lopes Marcelo
Dos Templários à Ordem de Cristo

Conhecer para entender, entender para assimilar e respeitar a nosa história e, assim pelos veios da memória, vivermos o presente de forma mais fecunda e coerente com a dignidade e a identidade que queremos assegurar no futuro. Procurando contribuir para este propósito, venho abordando neste nosso Mosaico cultural a problemática dos cavaleiros templários.
Ao seu papel fundamental na fundação do reino de Portugal, à sua missão povoadora, de conquista e defesa das novas terras; acresceu no caso de Castelo Branco e da Beira Baixa uma longa acção de recontrução e governo deste território que deixou fortes marcas patrimoniais.
Será que tal acção decisiva ao longo dos séculos XII, XIII e início do século XIV, se egotou ou se esfumou assim de repente? É verdade que a Ordem dos Templários foi extinta pelo Papa Clemente V, mas de que forma e com que consequências em Portugal?
As derrotas das Cruzadas no século XIII desvalorizaram o papel da Ordem na vertente militar, embora tivesse acumulado riqueza e poder. No coração da Europa reforçou-se a centralização do poder em monarcas absolutos. Em França reinava Filipe IV, o Belo, que em aliança e conlúio com o Papa Clemente V, lançou em 1307 um violento processo inquisitório para destruir a Ordem. Dirigentes e cavaleiros Templários foram presos aos milhares, uns foram mortos e outros conseguiram fugir para paragens onde eram aceites, incluindo Portugal. A importante frota de navios templários desapareceu e admite-se que terá sido acolhida em Portugal, onde a Ordem tinha a protecção do Rei D. Dinis.
Os Templários portugueses nunca se afastaram da lealdade devida ao seu Rei. Do processo inquisitório que o Papa Clemente V encarregou o Bispo de Lisboa, nada se apurou sobre os crimes e sacrilégios que o Papa indicava. D. Dinis conhecia o poder de Clero e do Papa e, tendo de actuar, fê-lo à sua maneira e não da forma que o Papa determinara: mandou instaurar um processo judicial contra os Templários, mas com o conhecimento deles. Nenhum foi preso e alguns saíram do país temporáriamente, tendo os bens da Ordem passado para a Coroa.
Nessa altura, início do século XIV, a Ordem sediada durante um século em Castelo Branco, abrangia também os reinos de Castela e Aragão. D.Dinis sabendo que sózinho não era suficientemente poderoso para resistir à vontade do Papa, aliou-se a Castela, onde o Rei D. Fernando II era seu genro, celebrando em 1310 a Convenção de Salamanca. Assim, ambos os reis se obrigavam reciprocamente a conservar para os seus reinos, caso a Ordem dos Templários fosse suspensa, todos os seus bens e rendimentos e a defender a Ordem contra quem quer que fosse. A esta Convenção se associou e se vinculou o rei de Aragão, Jaime II. Foi, assim, a aliança dos três reinos que fez frente ao Papa Clemente V que, quando ordenou a suspensão da Ordem dos Templários concedendo todos os seus bens aos Hospitalários, fez uma excepção a favor daqueles três reinos. Assim, a bula papal da suspensão da Ordem não teve efeito em Portugal. Os cavaleiros desapareceram e os bens ficaram em poder da Coroa. Por influência de D.Dinis, uma nova bula papal, decidida em 1313 pelo Papar João XXII sucessor de Clemente V, ordenou a fundação de uma nova Ordem de Cavaleiros, a Ordem de Cristo.
Os cavaleiros de Cristo tinham de seguir a regra dos monges de Cister, que já era seguida pelos templários e ficou clarificado que tinham de prestar juramento de lealdade ao Rei. D. Dinis, que prudententemente resistira, foi rápido e generoso a entregar todos os bens à nova Ordem e em 1319 declara sem efeito todas as sentenças contra os Templários. Rápidamente os antigos templários entraram para a Ordem de Cristo, incluindo o último Mestre D. Fei Vasco Fernandes. O Papa nomeou o Mestre de Avis, Gil Martins, para primeiro Grão-Mestre da Ordem de Cristo, que morreu pouco depois. O Grão- Mestre da Ordem de Cristo passou a ser eleito pelos cavaleiros com a aceitação do Rei e, mais tarde, ficou a ser privilégio da Casa Real. Em 1357, já com a sede em Tomar o com o Infante D.Henrique seu Mestre, a Ordem de Cristo como herdeira da Ordem dos Templários serviu de incubadora à gesta dos decobrimentos e desempenhou nos séculos seguintes um papel decisivo nas descobertas, povoamento e governo das novas terras.
Na sequência da capacidade guerreira que muito contribuiu para a fundação e consolidação de Portugal, os cavaleiros templários reforçados com os que vieram da europa continuaram na Ordem de Cristo, com os seus conhecimentos e experiência, a contribuir decisivamente para os descobrimentos e a moldar culturalmente a história do nosso país.

20/08/2015
 

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