ALEGRE ELOGIA FESTIVAL LITERÁRIO FRONTEIRA E DIZ QUE A LITERATURA TEM SIDO MENOSPREZADA
“A cultura não pode existir só na capital”
O escritor Manuel Alegre elogiou o Fronteira – Festival Literário de Castelo Branco, que decorreu entre quinta-feira e sábado, e disse que a Literatura e a Poesia têm sido menosprezadas, fruto da “ditadura de mau gosto”.
“A cultura não pode existir só na capital. É muito importante que em zonas como Castelo Branco, uma das grandes capitais do Interior, haja iniciativas destas, sobretudo, tendo como tema central a Poesia que é um dos grandes défices do nosso tempo”, disse.
O poeta, que participou sexta-feira no Fronteira, deixou elogios à organização do festival literário, mas adiantou que a Poesia e a Literatura “têm sido menosprezadas”.
“Dizia-se no tempo da ditadura que era o futebol, Fátima e fado. Nunca se falou tanto de futebol como agora. Eu gosto muito de futebol, mas gosto de ver futebol jogado. Futebol falado, tanto tempo? É uma ditadura de mau gosto”, sustentou.
Adiantou ainda que se fala pouco de livros e adiantou que os próprios jornais de referência, nem sempre falam da mesma maneira: “Há muitas seitas que tomam conta das coisas e depois impõem os seus próprios gostos. Foi talvez sempre um bocado assim, mas neste momento estamos mal”.
Alegre defendeu também que a Poesia “é para ser dita e partilhada”.
“Uma maneira de aprender a língua é dizer poesia em voz alta. Hoje parece que as pessoas têm medo das palavras. Parece que há arame farpado nas palavras”, disse.
O poeta e escritor alertou para a necessidade de ressuscitar a disciplina de História que considerou ser uma das mais importantes: “Deixamos de saber a nossa história, quem somos, de onde vimos”.
“Há um problema de memória e há também um culto contra a memória”, sustentou.
O político e escritor referiu que a poesia portuguesa foi uma “arma de combate “ em Portugal e sobre a sua obra literária, realçou o “impacto único e irrepetível” que os seus primeiros livros tiveram, não tanto pelas circunstâncias, mas pela novidade da linguagem poética e dos temas que tratava.
“Não são livros políticos nem panfletários, mas tiveram consequências políticas importantes na altura”, recordou.
Sobre o Prémio Vida Literária 2015/2016, que lhe foi atribuído recentemente pela Associação Portuguesa de Escritores, o poeta considerou-o “um estímulo” e manifestou a sua satisfação e honra pelo galardão.
Questionado sobre a recente demissão de João Soares como ministro da Cultura, Alegre disse ter muita pena que as coisas tenham terminado assim.
“Sou muito amigo do João Soares, tinha todas as condições para ser um bom ministro da Cultura e tenho muita pena que se tenha passado o que se passou e que as coisas tenham terminado assim, porque ele iria ser um grande ministro da Cultura”, concluiu.
Carlos Castela