17 de agosto de 2016

Lopes Marcelo
HÁ FESTAS E FESTAS...

Cá temos mais um querido mês de Agosto, moldura de tempo de férias, de reencontro entre familiares e maior convívio entre elementos de várias gerações que a vida tantas vezes separou geograficamente.
Vivemos um tempo em que a grande maioria das pessoas saiu da sua terra de origem, embora a ela continuem ligadas pelos laços da história e da tradição e, sobretudo, pelos afectos – sendo a nossa terra, a nossa pequena pátria da saudade e da ternura, que tornam mais forte e genuína a vibração da afectuosa pauta dos laços da infância.
Agosto, mês de festas feiras e festivais, num imenso mosaico de eventos que representam oportunidades de celebração para todos os géneros, estilos, gostos e geografias variadas deste nosso país. É um corropío de turbo-artistas, nacionais e estrangeiros, seguidos por multidões de admiradores. Todos tratam da sua vida o melhor que podem. A perspectiva que me interessa analisar é o envolvimento das Autarquias na promoção e organização, implicando, portanto, recursos públicos significativos em tantas festas, feiras e festivais. Qual o impacto no território e as consequências para a população residente?
Não me canso de sublinhar que as Autarquias são pessoas colectivas de direito territorial e, portanto, é o desenvolvimento equilibrado do território e das suas gentes, que constitui o seu objectivo e razão de ser. Território, que a população residente ao longo de sucessivas gerações gerou e moldou, quer nas funções produtivas, quer nas vertentes histórica e cultural, designadamente as tradições, os valores e símbolos que conferem identidade aos territórios e auto-estima às populações. Neste contexto, é natural que cada Autarquia use várias formas de publicidade, com destaque para os grandes cartazes. Mas, qual o destaque desses cartazes e programas? Serão os produtos e as potencialidades locais, a história e a tradição com o objectivo de valorizar as diferenças e a identidade do território?
Todos vemos, lemos e ouvimos que não! São antes, os nomes dos ditos grandes artistas que por uma noite, durante algumas horas colocam a Vila ou Cidade no efêmero estrelato da comunicação social. Pouco ou nada têm a ver com a realidade económica, produtiva e cultural do concelho, mas chamam gente, consumidores de eventos gratuitos, porque pagos por dinheiro público. Um ou vários artistas por noite e o que consideram êxito é medido pelo número de pessoas atraídas. É uma estatística de milhares numa perversa competição artificial entre os concelhos, quando o que fica da concentração desses milhares que se deslocam de espectáculo em espectáculo, é tantas vezes apenas o terreno pisado, jardins danificados e cheios de lixo. Estarei a exagerar? Convido os leitores a conferirem esses cartazes e programas. Deixo aqui um exemplo: em quatro dias de festa constam no programa oito Dejays(dois por noite), quatro grupos musicais e três cantores estrelas nacionais. E a realidade cultural do concelho? Lá aparece algum acordeonista, rancho folclórico ou banda filarmónica. A grande parte dos gastos são com as ditas estrelas exteriores à realidade do concelho. Quase sempre os milhares gastos com a montagem e aluguer de equipamentos e com as tais estrelas que vêm de fora, é muitas vezes superior ao apoio que a Autarquia concede ao longo do ano ao conjunto das Associações e Colectividades do concelho. Tantas vezes, ainda, os tais grandes cartazes lá indicam a utilização de fundos de programas europeus e do nosso país, destinados a territórios pobres e de baixa densidade, com despovoamento e desertificação, como são os da nossa região que se têm agravado ano após ano.
Será que se acredita que a presença efémera e momentânea de alguns milhares, contraria a baixa densidade do território?Ninguém se interroga? Nem quem aprova tais fundos, nem quem os gasta assim na profusão de festas e feiras de impacto duvidoso, até porque já se realizando em anos seguidos, o consequente impacto no território não se tem visto.
Vale a pena existir tal competição entre Autarquias? Não conseguem articular e actuar na dimensão das Comunidades Intermunicipais? É que as verdadeiras soluções não podem ser encontradas isoladamentea nível de cada concelho e muito menos em competição com os vizinhos. Antes, a dimensão dos problemas e a sua natureza estrutural, exigem maior escala, políticas, prioridades, critérios objectivos, planeamento, marketing territorial, definição de objectivos e avaliação rigorosa a nível regional e nacional.

17/08/2016
 

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