SEMINÁRIO ONCOLOGIA E AS SUAS IMPLICAÇÕES NAS UNIDADES DE CUIDADOS CONTINUADOS INTEGRADOS
Interior tem falta de equipas de cuidados paliativos
“O Interior continua a ser uma área desprotegida” no que se refere a equipas de cuidados paliativos, garantiu Isabel Duque, que é responsável pela Unidade da Dor e da Equipa Intra-Hospitalar de Cuidados Paliativos, do Hospital Amato lusitano (HAL), de Castelo Branco, no decorrer do seminário Oncologia e as suas Implicações nas Unidades de Cuidados Continuados Integrados, organizado pela Unidade de Cuidados Continuados Integrados da Santa Casa da Misericórdia de Castelo Branco.
No encontro que decorreu sexta-feira, no Cine-Teatro Avenida, em Castelo Branco, Isabel Duque realçou que “em Portugal apenas existem 80 equipas de cuidados paliativos, das quais 75 por cento são de gestão pública e as restantes 25 por cento de gestão privada”.
Isabel Duque realçou ainda que dessas 80 equipas, “15 se encontram na Grande Lisboa e oito no Grande Porto, o que representa um terço de todas as unidades”, para constatar que “o Interior continua a ser uma área desprotegida”.
Por isso defende que “há que criar equipas” e realça que “enquanto não temos, estes doentes estão cá e têm que ser cuidados”, sublinhando que “cuidados paliativas não é dar a mão e ajudar a morrer. É ajudar a viver com dignidade até ao último suspiro”, o que se alcança através da “promoção do conforto, da melhoria de vida dos doentes e das famílias”.
Antes de Isabel Duque, a diretora da Escola Superior de Saúde Dr. Lopes Dias (ESALD) de Castelo Branco, Paula Sapeta, tinha realçado que “há que desmistificar que a doença oncológica é fatal, uma vez que é uma doença crónica”.
Para provar isso avançou que no respeitante a óbitos “19 a 21 por cento são de cancro, enquanto as doenças cardiovasculares representam 40 por cento”, para reforçar que “há muita resistência em entender o doente oncológico como um doente crónico, porque há muitos mitos”.
Noutra vertente, Paula Sapeta chamou também a atenção para “a disponibilidade dos fármacos”, denunciando a “pouca utilização de opiáceos”, ao que junta “a obstinação em terapêuticas inúteis”, referindo-se a casos em que “o doente já está em câmara ardente, mas ainda estão a fazer quimioterapia ou radioterapia”.
A questão do cancro ser uma doença crónica, foi depois retomada por Isabel Duque, ao afirmar que “primeiro temos que perceber o que é cronicidade”.
Assim, explica que “há 50 anos atrás o doente oncológico, era um doente condenado a curto prazo, mas, atualmente, é um doente crónico”, esclarecendo que “uma doença crónica é uma doença prolongada no tempo, que evoluiu de uma forma gradual, que provavelmente tem poucas probabilidades de cura, mas pode ser controlada”.
Pelo meio, Isabel Duque explicou que “um dos fatores para que as doenças crónicas sejam mais prevalentes na nossa sociedade resulta do envelhecimento da população”, uma vez que isto origina “o aumento das doenças crónicas e degenerativas”.
Tudo isto, para mais à frente sustentar que “80 por cento dos doentes com cancro vão precisar de cuidados paliativos”.
António Tavares