José Dias Pires
OS TRÊS CASTELOS
Nos últimos anos a Europa não tem andado longe desta fábula:
Chegadas ao palanque, bem no alto, as aves, convencidas pelo destino, prometeram o que melhor sabiam ser a ignorância dos animais que as aplaudiam:
«Vamos construir-vos três castelos! Ou então tomá-los de assalto aos que não têm tino e negam os tempos que hão de vir, só de alegria! Onde vocês antigamente só sofriam ficarão desenhados os destinos mais belos.»
E assim foi:
Aos peixes marinheiros, do norte, ordenaram que fizessem, altivo, o seu castelo.
Aos pássaros voadores, do sul, pediram que construíssem uma fortaleza capaz de se tornar em monumento.
Aos rastejantes soldados, do leste, ordenaram, com voz potente, o levantar de um castelo digno, talvez, de uma epopeia.
Obedientes, zelosos, todos fizeram o que mandaram as aves convencidas pelo destino.
(É bom o trabalho quando o sonho é grandioso e belo).
A tempo estavam prontas as encomendas para que as vissem:
Os soldados, do leste, orgulhosos do seu castelo de vento.
Os voadores, do sul, radiantes com o seu castelo no ar.
E os marinheiros, do norte, babados com o seu castelo de areia!
Esqueceram-se os mandadores de alguns pormenores apenas:
Junto às praias há sempre mais marés que peixes marinheiros. No ar, nem mesmo as nuvens mais leves permanecem, e nem sempre é a tempestade que desfaz os ventos.
Pormenores que afinal não conheciam, e segredos que a outros poderosos animais já pertenciam:
As construções de areia desfazem-se com ondas pequenas. As ligeiras depressões derrotam altos sonhos corriqueiros e, por entre brisas, até os ventos se desvanecem.
Quem de promessas vãs recheia os seus intentos, arrisca-se a ser apenas uma repetição tardia das palavras que já em noites passadas os animais temiam!
Pode ser que não, se esta Europa quiser ser finalmente (também depende de cada um de nós) a nossa casa comum, nos valores e nos princípios.