jOSÉ DIAS PIRES
Museologia, cidadania e educação
Temos hoje, no concelho de Castelo Branco, um circuito museológico potencialmente muito interessante e, simultaneamente muito desafiante. Há por aí quem tenha dúvidas sobre as potencialidades e os desafios. Creio que vale muito a pena tentar aprofundar a reflexão, porque, na minha opinião, algumas das dúvidas nascem de menor fundamentação de três conceitos fundamentais: museologia, cidadania e educação.
A museologia, que toma como base o Património Cultural, fruto do fazer e saber fazer humanos, ao desenvolver as funções básicas de recolher, documentar, conservar, expor e agir culturalmente, direciona-se para a intervenção educativa e cultural na tentativa de despertar a consciência crítica dos indivíduos, levando-osà reapropriação da memória coletiva e ao direito do exercício da cidadania.
Durante todo o século XX, a preocupação com a ação educativa dos museus foi uma realidade que se intensificou quando a educação passou, também, a ser entendida como uma das funções básicas dos museus.
Foi no entendimento de que a maior potencialidade dos museus é a sua ação educativa, e que a verdadeira educação é aquela que contribui para libertação, o questionamento e a reflexão, é que alguns profissionais da museologia trouxeram, para «o mundo dos museus», a partir da década de 70, muito do método de Paulo Freire, cujo modelo teórico se funda na colaboração, na união pela libertação, na síntese cultural, no diálogo, na criatividade, na reflexão crítica e na negação da educação repressora.
Baseada neste modelo, que partilho e defendo, a ação educativa museológica pode, e deve, criar situações que levem, quem nela se envolve, à reflexão e ao desenvolvimento, contribuindopara uma educação dialógica elibertadora, onde os indivíduos estarão capacitados para transformarem a sua realidade.
Ainda por consolidar num projeto integrado e integrador, o potencial circuito museológico do nosso concelho tem todas as condições para integrar as mudanças ocorridas nos conceitos de museu e museologia, assim como as novas necessidades sociais. Importaredefinir as funções educativas no âmbito dos nossos espaços museológicos, e refletir sobre o papel da ação museológica no campo educativo que crie situações que levem ao desenvolvimento e à reflexão da comunidade.
Esta é uma particularidade da museologia contemporânea que ganhou relevo a partir do momento que os museus passaram a ser considerados espaços de comunicação e trocas de saberes, e que levam os museus e a museologia a ser valorizados não só pelo seu património edificado e as suas coleções, mas também, e sobretudo, pelo que representam perante as comunidades na qual se inserem.
Há, assim, uma nova vertente da museologia atual que importa potenciar: a museologia social cuja característica fundamental é a valorização do homem como sujeito participativo, crítico e consciente da sua realidade, facto que transcende a valorização da cultura material desvinculada da realidade social.
É possível interrogar as nossas potencialidades museológicas e os desafios que se lhe associam? É. Mas é muito mais importante agir com fundamento, para promover as primeiras e responder aos segundos. Cidadania.