Valter Lemos
O IPCB e a UBI
As instituições de ensino superior foram criadas no interior do país tendo dois objetivos fundamentais: a democratização do acesso a tal ensino e a promoção do desenvolvimento regional.
A ideia remonta à Reforma Veiga Simão no início da década de 70 do século passado. O então ministro da Educação Nacional criou novas universidades em Lisboa, Braga, Aveiro e Évora e duas novas redes de ensino superior: o ensino politécnico e o ensino normal superior (destinado à formação de professores). Essas redes incluíam um Instituto Politécnico na Covilhã e um Instituto Normal Superior em Castelo Branco.
Após o 25 de Abril e na vigência dos governos provisórios, a reforma Veiga Simão foi abandonada, mas ficaram em funcionamento as instituições que já tinham iniciado processos de instalação como as universidades novas e os institutos politécnicos da Covilhã e de Vila Real. O pensamento político dominante à época era contrário à existência de dois tipos de ensino superior, pelo que os recém-nascidos institutos politécnicos foram rapidamente transformados em institutos universitários, deixando de existir ensino politécnico.
Só no final da década de 70 é recuperado o plano de Veiga Simão para a existência de uma rede nacional de ensino politécnico em todos os distritos, cuja criação verá a luz nos últimos dias do Governo Pintassilgo em 1979,tendo-se iniciado a sua implementação nos anos 80 durante os governos de Sá Carneiro e Pinto Balsemão, consumando-se definitivamente no governo do bloco central chefiado por Mário Soares.
Assim foi criado o instituto Politécnico de Castelo Branco. O da Covilhã havia, entretanto, sido transformado em instituto universitário e depois universidade (com a designação de Beira Interior). E o então distrito de Castelo Branco ficou com duas instituições de ensino superior público, o que só veio a acontecer também, mais tarde, em Faro (para além, claro, de Lisboa, Porto e Coimbra), porque nos restantes distritos ficou somente a universidade, se já existia (Braga, Évora, Vila Real) ou os novos politécnicos (Beja, Bragança, Guarda, Leiria, Portalegre, Santarém, Setúbal, Viana do Castelo e Viseu). Houve posteriormente pequenas evoluções com a criação dos politécnicos de Tomar (Santarém) e Cávado e Ave (Barcelos -Braga). A verdade é que, mesmo hoje, Castelo Branco é o único (antigo) distrito do interior que tem uma universidade e um politécnico.
Está a região a tirar partido disso?
Durante as quatro décadas passadas desde a criação do Instituto Politécnico da Covilhã e mais tarde do Instituto Politécnico de Castelo Branco, a região (ex-distrito de Castelo Branco) beneficiou muito da existência das duas instituições (ou três se considerarmos também o vizinho ex-distrito da Guarda). Desde a sua criação até meados da primeira década deste século assistiu-se a um progressivo crescimento das instituições, com a criação de novas escolas e estruturas, novas formações, aumento do número de alunos e professores, qualificação dos professores e dos restantes recursos. Foi o tempo de afirmação das instituições e de criação da sua identidade e do seu projeto próprio de intervenção. Hoje cada instituiçãotem a sua identidade e o seu projeto afirmados. Mas, a partir dessa fase o crescimento abrandou. Em primeiro lugar porque passou a haver menos áreas de formação a considerar à medida que se foi alargando o leque existente; depoisporque a crise superveniente trouxe uma diminuição dos recursos (que dificilmente voltarão ao nível anterior no futuro próximo) e ainda porque a política de rede de ensino superior tem privilegiado o crescimento das instituições do litoral em claro detrimento do interior. Tenho mesmo a certeza que se não têm sido criadas, atempadamente, na UBI, a Faculdade de Medicina (em 1998) e no IPCB as Escolas Superiores de Artes Aplicadas (1999) e de Saúde (2001), hoje o declínio do ensino superior no distrito seria possivelmente irremediável.
Creio, pois, já ter sido completado o primeiro ciclo de desenvolvimento do ensino superior na região. Hoje é necessário encontrar novos rumos. A preocupação central não pode ser o crescimento horizontalà custa de novas áreas de formação e novos alunos, mas sim o crescimento vertical à custa de melhorias de eficiência científica e pedagógica (mais níveis de formação, mais qualificados e mais competitivos). Tal tem vindo a ser desenvolvido pelas instituições, mas, a eficiência científica e pedagógica só atinge níveis significativos com o efeito de escala. Quantos mais professores e investigadores trabalharem conjuntamente em áreas científicas afins, de forma organizada, maior e mais competitiva é a produção científica e a eficiência pedagógica. Claro que isto contraria a tendência geral atomizadora e individualista de grande número de docentes do ensino superior. Mas é o desafio central. É isto que deverá preocupar as instituições de ensino superior da região nos próximos anos.
E é por isso que os níveis de cooperação entre a UBI e o IPCB têm que ser incrementados e esse é o próximo verdadeiro desafio para os dirigentes das instituições e para os professores, mas, também para os responsáveis políticos locais e regionais e outros dirigentes de instituições, empresas e organizações, se quiserem realmente travar os combates certos, no sítio certo e no momento certo.