8 de junho de 2016

Antonieta Garcia
SERÁ MESMO ASSIM?

Diz-se que num Colóquio pedagógico, recentemente realizado na Beira, se defendeu, com unhas e dentes, a utilização, nas salas de aula, de tablets, smartphones e tecnologias que tais…
- Já os vendem baratinho, justificavam. O conceito de “barato” é deveras caprichoso e subjetivo, mas enumeravam-se tantas outras vantagens... As crianças adoravam, e, assim, este seria o meio acabado para o sucesso escolar florir, para a construção da alegria na escola. No que ao docente respeita, os benefícios eram outro céu azul… Umas aplicações num I’pad ou I’qualquer-coisa, pessoal, permitiam conhecer as respostas, aceder às avaliações obtidas, em tempo recorde, com estatística acoplada e tudo. São (?) os caminhos de amanhãs a cantarem um sol escaldante de saber. Os livros aparecerão despejados em museus como peças obsoletas, os manuais escolares tornar-se-ão prescindíveis… Contas feitas, todos teriam a ganhar com esta opção, inclusive os pais que, setembro chegado, têm de abrir os cordões à bolsa para manuais sempre novos e para alguns não é fácil, não é fácil… Os tablets até eram investimento isolado. Mas já agora uma perguntinha tímida, pela ignorância: os materiais de estudo serão produzidos por quem? Oferecem-se em versão única ou… quem escolhe o quê? Os tablets são eternos?
Moderníssimo o projeto já ganhou seguidores, adeptos, crentes e até fãs. Pois não sabemos como as crianças se pegam a estas “máquinas” durante horas a fio sem descolarem? O insucesso escolar tem os dias contados… Ólarilolela!
Os olhitos ficam vermelhos e remelam, sofrem? Mas que mal fazem uns óculos nas carinhas larocas? O sono ressente-se com o uso arrebatado de tais aparelhos? A postura com a cabeça sempre baixa, tem consequências negativas nos ombros? A Sociedade Canadense de Pediatria e a Academia Americana de Pediatria, responsáveis por estudos neste âmbito, concluíram que a utilização de smartphones e tablets pode ser prejudicial antes dos 12 anos, causando défice de atenção, atrasos cognitivos, aumento de impulsividade?
Acresce que as radiações que alguns invocam, são polémicas, inconclusivas e, quem sabe?, talvez nem existam…É tudo tão moderno, tão mais rápido…A seca abandonará a escola; se nas S.M.S. tudo se abrevia para ser mais veloz e se comem sílabas reduzindo as palavras ao mínimo, poupando tempo e carateres gráficos, quando um amarelito – refiro tão só os emoticons que escolheram a cor - exprime a alegria e tristeza, raiva e tudo, para quê expressar-se doutro jeito? Viva o efémero! Viva a velocidade!
Por mim, desculpem lá, senti um calafrio, ao ouvir neviscar estas palavras, nos meus cabelos brancos. Já se pensou em tudo isto a sério? Porquê e para quê tanta pressa?
Tudo o que fazemos está ancorado no tempo. Um fio liga os acontecimentos, as experiências e as mudanças também. Ora, atualmente, o frenesi da celeridade abraça e estrangula todos. Ninguém tem tempo para nada. Tudo se quer fazer em três tempos.
Na verdade, este fast tudo - e até o fast food - precisa de dissidentes. A arte de viver consiste em quê? Na pressa? Num corrilório louco? Para quê? Nunca houve tantos meninos hiperativos bem ou mal diagnosticados… Às vezes, é problemático manter uma criança sentada, na sala de aula; há adolescentes que exigem paciência capaz de arrasar qualquer docente.
O vandalismo é contagioso; as paredes gritam agressividade em grafitis sem arte, provocadores de náusea…
Corre-se em busca de coisas fáceis, vertiginosas, que não obriguem a pensar. A terapia da facilidade onde nos leva? Como diz Steiner, há coisas que só se aprendem com o suor da alma. O facilitismo leva a melhor, no tempo em que, everything goes – Vale tudo!
Ora, educar não é alargar a perceção de que nada se alcança sem esforço, e que é tanto mais gratificante a aprendizagem, a descoberta, quanto maior for o empenho pessoal que exige?
Pelo que ouvimos, uma das preocupações do participante no Colóquio referido, era a de agradar às crianças. Mas será esta a melhor forma de desenvolvermos as potencialidades dos alunos? E que é da felicidade, do bem-estar, da satisfação pessoal em superar dificuldades? Para quando ficam as brincadeiras com os amiguinhos, as conversas, as perguntas, a vivência da amizade? Estamos perante situações complexas, e inéditas, estruturais. Educar exige tempo, trabalho, dedicação. Alguém que ame o ser humano, não desperdiçará as suas potencialidades. Vamos facilitar? Malala, a jovem nascida num universo de sofrimento e de muita violência ensina: “Um aluno, um professor, um livro e uma caneta podem mudar o mundo. A educação é a única solução. Educação primeiro.”

08/06/2016
 

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