1 de março de 2017

Valter Lemos
“GOD BLESS AMERICA”

A DIVERSIDADE DOS EUA NÃO PRODUZIU UMA SOCIEDADE JUSTA, MAS, PRODUZIU UM PAÍS LIVRE

O mandato de Trump tem, como se esperava, dominado a informação internacional nas últimas semanas. Não é para menos. O homem parece que anda à procura de conseguir piorar diariamente tudo o que diz e quase tudo o que faz. É, aliás, difícil conseguir vislumbrar uma estratégia a prazo para o mandato da criatura. Trump parece querer arranjar problemas com quase todos os países, na frente externa, e quase todas as instituições, na frente interna. Poder-se-á argumentar que tenta agradar aos seus votantes. Na realidade o eleitorado de Trump é constituído maioritariamente pelos americanos mais ignorantes, mais conservadores, e mais reacionários. Mas, o seu eleitorado também inclui uma direita liberal, integrada por indivíduos mais instruídos e mais urbanos e genuinamente defensores da liberdade de expressão e de iniciativa. E se é fácil perceber que os primeiros possam rejubilar com o que, até agora, o “trumpismo” trouxe, é mais difícil que os segundos possam apoiar grande parte das iniciativas e das afirmações de Trump, até porque, desde logo, parece muito improvável que ele possa sair vencedor de algumas das guerras que despoletou.
A escolha dos tribunais e da comunicação social como inimigos na frente interna não parece ser muito inteligente. Em primeiro lugar porque legitima as acusações dos seus adversários de ataque à liberdade e à democracia a que muitos dos seus apoiantes são sensíveis. Em segundo lugar porque num país tão altamente liberalizado e descentralizado como os EUA é objetivamente impossível controlar (no sentido de manietar) todas as fontes de poder judicial e, ainda menos, todos os grandes (e pequenos) órgãos de comunicação social.
A força da diversidade na sociedade americana tem provocado muitas desigualdades, mas, tem-se mostrado o mais importante seguro da liberdade e da democracia. Por vezes, o facto de só haver dois partidos históricos leva a análises simplistas da política americana. Por exemplo que os republicanos são conservadores e os democratas são progressistas. Mas, a abolição da escravatura deve-se a um republicano (Lincoln) e as leis anti monopólio a outro republicano (Theodore Roosevelt), que foi aliás o primeiro norte-americano a ganhar o Prémio Nobel da Paz em 1906. Ambos são, aliás, considerados consensualmente no topo da lista dos melhores presidentes dos EUA.
A diversidade da sociedade norte-americana, que não tem paralelo em nenhum outro país do mundo, tem sido, ao longo da história a força motriz daquele país e daquela democracia. Desde logo o país foi construído por sucessivas ondas de emigrantes (irlandeses, italianos, alemães, polacos, russos, chineses, indianos e muitos outros asiáticos, mexicanos e sul-americanos, etc., etc.) que se vieram juntar aos colonos ingleses e aos escravos africanos. Os EUA são, talvez com o Brasil, o expoente máximo da mistura e da miscigenação biológica e cultural da espécie humana em toda a história.
A diversidade dos EUA não produziu uma sociedade justa, mas, produziu um país livre. Um país onde a constituição é respeitada, com tribunais independentes, com universidades autónomas e com comunicação social livre.
É possível alterar essa situação e transformar os EUA num país dominado por um regime autoritário, onde a independência dos tribunais não exista, as universidades sejam dirigidas pelo Governo e a comunicação social seja politicamente controlada?
É, no fundo esta pergunta que baila no pensamento de muitos, quando veem Trump fazer leis anti emigração, invetivar juízes, ofender e proibir jornalistas, etc.
Devemos saber que não chegámos, com certeza, ao fim da história, pelo que a transformação radical de um país ou de uma sociedade deve ser encarada como possível, quer do ponto de vista académico, quer do ponto de vista político. No entanto, parece pouco provável que tal venha a acontecer aos EUA com Trump. Desde logo pela solidez das suas fundações sociais, políticas e institucionais, mas, também porque Trump não parece ter inteligência própria, nem apoio suficiente para tal empreitada. Mas, não deixará de fazer muitos estragos. Não só no seu país, mas também infelizmente, em muitos outros países, dados o papel e a influência dos EUA.
Parece também que a evolução da situação europeia pode ser relevante neste cenário. Se a Europa seguir o caminho de Trump, a sociedade em que vivemos pode mesmo sofrer uma mutação violenta. As eleições francesas jogam um papel muito importante. Uma vitória de LePen traria, certamente, um contexto favorável a tal mutação que marcaria, pelo menos, o fim da atual União Europeia e o fim do estado providência e do modelo social europeu.
Talvez os franceses não caiam totalmente na armadilha demagógica e estupidificante de LePen. Mas, creio que a maior esperança é que a sociedade americana e as suas instituições resistam ao sobressalto como sempre o fizeram.

02/03/2017
 

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