29 de maio de 2019

José Dias Pires
“NUNCA SOMOS DEMASIADO PEQUENOS PARA FAZER A DIFERENÇA” - GRETA THUNBERG

A manifestação pela luta contra as alterações climáticas que resultou da greve às aulas que, sobre tal questão, quase não existem — digo eu para ser simpático — lá seguia rua acima. Alguns porque sabiam que o impacto das atividades humanas no clima e na temperatura da Terra é cada vez maior, nomeadamente no que respeita à queima de combustíveis fósseis, ao abate da floresta tropical e à exagerada, e intensiva, produção pecuária.
Às vezes os canais de televisão, apesar das novelas, conseguem lembrar-nos que as enormes quantidades de gases com efeito de estufa provenientes destas atividades quando se juntam às naturalmente presentes na atmosfera, reforçam o efeito de estufa e o aquecimento global.
A manifestação, animada, lá continuava. Correspondia à resposta a uma ideia de uma jovem sueca de 16 anos, chamada Greta Thunberg, que desde o ano passado iniciou uma greve às aulas como forma de chamar a atenção para a necessidade de mais ação para fazer face às alterações climáticas. A maioria dos manifestantes desconheciam isso, mas pareciam estar muito seriamente preocupados com uma certeza: as alterações climáticas têm origem na atividade humana e são um problema que tem consequências devastadoras, nomeadamente para o sul da Europa, logo também para nós.
Na marcha seguiam crianças muito novas, demasiado novas para o ritmo e o ruído, para compreenderam algumas palavras de ordem e incapazes de saber que estavam a fazer greve, pois iam acompanhadas das suas educadoras.
Sabiam lá elas que na presente legislatura, para fazer face às alterações climáticas, foi aprovado um quadro estratégico para a política climática, e que já existe um programa e uma estratégia para a adaptação às alterações climáticas; um roteiro para a neutralidade carbónica e um Acordo de Paris aprovado para a legislação nacional, mas que também existe alguma dificuldade na concretização de medidas. Dos mais velhos, que mantinham o entusiasmo, pouco sabiam que dotados com este conjunto de diplomas devíamos estar a dar passos muito mais rápidos.
Um professor, alguns pais (felizmente atentos) e outros cidadãos já não escolares, mas estudantes, comentavam que o tema das alterações climáticas terá de continuar no “centro da agenda” europeia e que tem de ser a Europa a liderar o combate às alterações climáticas, especialmente na limpeza dos oceanos e na aposta na transição energética.
Dos quase finalistas do 3º ciclo e secundário eram por certo bastantes os que sabiam que a Ásia não trata o plástico e que nos Estados Unidos há um secretário de Estado que afirma que o degelo no Ártico é uma oportunidade económica, enquanto o seu trumposo e oxigenado presidente aplaude.
Mas as crianças pequeninas não o sabem. Devia ter chegado, mas ainda não chegou o tempo de falar ou ouvir falar sobre estas questões do clima.
E perguntam: o que é o clima? Quem é o clima? Para que serve? Onde mora?
Entendamo-nos: isto não é propriamente um conflito de gerações. É um problema que tem a ver com o sistema económico e social dominante à escala global. É um problema inerente ao modo de produção capitalista e que tem de encontrar uma solução no quadro de um outro sistema que proporcione uma relação sustentável e harmoniosa entre o Homem e a Natureza. É um problema da sociedade e por isso das comunidades; da escola e por isso das famílias.
A Greta Thunberg afirmou que “Nunca somos demasiado pequenos para fazer a diferença” porque achava que a sua sociedade, a sua escola e a sua família o não faziam e fez greve no seu local de trabalho — a escola.
Ela aprendeu entretanto que o mundo se altera quando as mentalidades mudam. E isso é, normalmente, o mais difícil, porque é difícil alterar os hábitos dos mais velhos. Mas é muito bom perceber que os mais novos têm essa preocupação, e que, não tarda muito, estarão a liderar todo o processo e que talvez comecem por eles as principais diferenças antes que chegue o Dia dos Remorsos.
«Se houver uma nova escola!», ouvi dizer a uma voz ainda infantil. «Uma nova escola?», perguntei. «Uma nova escola para os pais, para os professores, para os que mandam nesse tal do clima!» «E para que servirá essa nova escola?» «Ora, para que aprendam!» «E aprendam o quê?»
«Isto: que as florestas calcinadas não há um lugar que tenha condições para se passear. O cinzento do chão parece um deserto que torna longe o que antes era perto,
e cujo futuro ninguém sabe ao certo. Depois, há a ameaça, que paira no ar, de que as chuvas fortes possam arrastar o que as florestas não consigam guardar. Que as árvores queimadas pintam o vazio que aumenta ao não se ouvir um pio, um uivo, um balir ou um zumbido. Ali só o silêncio ecoa e é repetido numa sensação de perda sem sentido. A floresta perdeu a cor e está despida, transformada numa paisagem perdida. Lá não há quase nada que lembre a vida.»
«E à nova escola que nome se vai dar?»
«A Última Fronteira!», respondeu a criança, sem hesitar.
Imaginem que em todas as localidades do país, sem ser necessário novas escolas de raiz, essas novas Escolas começariam a funcionar nas casas onde havia uma criança para ensinar. De noite, em sonhos, eram informadas, para de manhã terem as aulas bem preparadas. E os pais (incluindo no grupo as mães, é claro) começariam a aprender que, nos sonhos dos filhos, os animais conseguem apagar os fogos irritantes que se acendem, matreiros, nos matos que outros não cortaram, nas florestas mal tratadas e nas estradas e caminhos que outros não cuidaram. Carregam os ramos caídos nas florestas e serras, trituram palhas e cardos que hão de ser adubo animal para enriquecer as terras. Vão assustar os incendiários, sempre que os encontrarem, obrigando-os a ser bombeiros involuntários. Também são capazes de afugentar pessoas distraídas que deixam nos campos papéis, plásticos e restos de comidas.
Nas novas Escolas de Pais, ensinados pelos filhos, os pais (incluindo no grupo as mães, é claro), pouco a pouco vão regressar à sua infância e recuperar, com nostalgia, o que se transformou em ignorância. Aprenderão, espantados, á medida que os sonhos dos filhos lhes forem contados, que vindos do Mar dos Sargaços e dos recifes de coral em vias de extinção, e dos oceanos onde ainda se mantém, despudorada, a poluição, há cachalotes algueiros, peixes-agulhas tricoteiros, baleias rebocadoras, rémoras limpa embarcações, polvos, moreias e bodiões que são limpa fundos fenomenais. Peixes-lua e cavalos-marinhos oxigenadores, considerados dos melhores para ajudar no crescimento dos corais; gaivotas enxota nevoeiros para fazer parar os aviões que não usem em todas as ocasiões energias limpas, ao voar.
Será uma grande aventura — A Grande Aventura — o que nas novas Escolas de Pais, ensinados pelos filhos, ficará para memória futura em que os pais (incluindo no grupo as mães, é claro) já esquecidos da infância, voltaram a poder dar uma renovada importância ao que a desatenção e o descuido os tinham levado e que voltaria a haver um Mar de Mar e uma Terra de Terra, onde as Equipas Primavera e as Frotas Maré de Vida já terão menos medo do Princípio do Fim, porque as novas Escolas de Pais são o Princípio do Reprincípio!
Estarão os filhos apenas a imaginar o que as noites lhes trouxeram para sonhar?
Talvez.
Mas, desta vez, sobrarão para os pais (incluindo no grupo as mães, é claro) os tempos do “não acredito” e a idade dos “porquês”.
Muitos hão de inscrever-se também como reforços, dizendo com um ar de esperança:
«Eu quero voltar a ser criança!»
Será esse o momento em que começa, para acabar, o Dia dos Remorsos, porque “Nunca somos demasiado pequenos para fazer a diferença”.

29/05/2019
 

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