João Carlos Antunes
Apontamentos da Semana...
ESTA SEMANA FOI MARCADA por um certo alvoroço na comunicação social. Tudo pela crónica publicada este sábado no jornal Público pela historiadora Maria de Fátima Bonifácio que ali expõe com toda a crueza ideias racistas e xenófobas. Um coro de protestos da parte dos leitores do jornal e que extravasou para as redes sociais, obrigou o diretor Manuel Carvalho a escrever no dia seguinte um editorial onde, apesar de defender o jornal como um espaço plural de ideias, mesmo as que não se integram na sua matriz, reconhece que se deveria ter tido outro critério em questões tão sensíveis como as da discriminação. Estamos portanto perante um caso de limitação à liberdade de expressão, tão importante para a manutenção de uma imprensa livre e plural? Não. Simplesmente porque vivemos num país de liberdades e a historiadora Maria de Fátima Bonifácio tem já um espaço onde pode explanar livremente as suas ideias, mesmo as mais racistas, o Observador, onde se acantona a velha direita mais conservadora. E ninguém põe em causa esse direito de existência, que é saudável para a democracia. Mas um jornal como o Público, o Diário de Notícias ou qualquer outro jornal nacional e regional, até pelo respeito que merecem aos seus leitores, devem traçar balizas que em caso algum deveriam ser ultrapassadas. E não foi o que aconteceu com o texto da conhecida especialista em história do século XIX que apresenta um chorrilho de ideias algumas até cientificamente erradas. A propósito da intenção do PS introduzir quotas para as minorias étnicas, defende-as para as mulheres porque partilham, de um modo geral, as mesmas crenças religiosas e os mesmos valores morais, fazendo parte deste modo de uma entidade civilizacional milenária que dá pelo nome de Cristandade, decretando que tal não se aplica a africanos nem a ciganos. Ou extrapolando da sua vivência pessoal para uma generalização abusiva dos potenciais racistas vivenciados no interior das próprias minorias raciais. Isto é tudo aquilo que nós não queremos, que estes ideais sejam vistos com naturalidade pela sociedade, baseados na ignorância e falsidades, que um jornal com o prestígio do Público viole a sua matriz para publicar textos eivados de ódio. Como defendemos a liberdade e a pluralidade da imprensa que não está em causa aqui.
NA ELABORAÇÃO DAS LISTAS CANDIDATAS a deputados Rui Rio arrisca. Um risco que até abona em seu favor, porque é importante a renovação das figuras que vão compor o hemiciclo de S. Bento. Mas será um risco calculado? É que a ideia de colocar em cabeça de listas figuras com menos experiência política, varrendo alguns barões e baronetes ou remetendo-os para lugares secundários, como ele próprio de resto e talvez para dar o exemplo, pode ser teoricamente bom (e é) mas a reação do eleitorado vai ser uma incógnita. Incógnita, não será a dos críticos do líder do PSD.