18 de dezembro de 2019

Lopes Marcelo
CUIDAR DA MEMÓRIA

Não basta herdar passivamente as jóias culturais das nossas tradições. Há que merecê-las, recolhendo-as e estudando-as para que sejam divulgadas, dignificadas e preservadas. É necessário e urgente concretizar projectos de pesquisa e de recolha de memórias e de testemunhos inéditos, contribuindo para a salvaguarda do nosso património cultural imaterial.
A valorização das artes, ofícios e saberes tradicionais não deve ser feita na perspectiva de mera celebração do passado ou simples divertimento. Antes, deve atender-se à inovação autêntica e qualificada, peneirando a memória, combinando-se tradição e inovação trazendo para a economia dos nossos dias os saberes e as tecnologias humanizadas que sejam garantia de desenvolvimento sustentado e coerente com o que é nosso e fundamenta a identidade cultural. É fundamental recolher, salvaguardar e partilhar os saberes, através dos testemunhos do exemplo e na voz de quem já muito viveu, muito experienciou e, portanto, muito sabe. Para além da salvaguarda do património da cultura tradicional popular das nossas comunidades, importa que tal sabedoriaa seja assumida, respeitada e usufruída na afectuosa vibração das raízes identitárias. Para tal, importa que seja obtido o conhecimento pelo diálogo e próximidade, residindo e vibrando na pauta das tradições. Tradições que representam autenticidade, que resistiram e se adaptaram, integrando memórias, símbolos e valores que se foram sedimentando na memória colectiva.
Está implicito à preocupação do cuidar da memória, todo um processo de pesquisas, de diálogos de auscultação junto da população mais idosa, designadamente no âmbito das Academias Séniores e das Universidades Séniores, bem como das Escolas, das Instituições Sociais e de Desenvolvimento Local que acolhem e contactam com a nossa população mais idosa. Para a organização em rede, podem as Autarquias Locais dar um suporte institucional e em meios logísticos. Como objectivos de tal rede de cuidadores da memória, destaco:
- Passar da memória individual à valorização da memória colectiva pela vibração dos afectos, numa relação de próximidade e de partilha;
- Celebrar na pauta das tradições os valores da nossa Identidade;
- Interpretar e divulgar as nossas bandeiras culturais como genuínos cuidadores da memória;
- Reforçar os laços de convívio social e cultural, pela partilha da herança cultural comum e na vibração do sentimento de pertença à mesma comuindade;
- Registar e valorizar as marcas identitárias do nosso território que foi sendo humanizado ao longo das sucessivas gerações,
- Resgatar e salvaguardar o nosso património cultural, designadamente o imaterial transmitido oralmente ao longo das últimas gerações;
- Devolver à comunidade os resultados, em saudável vibração da auto-estima e propiciando a valorização e a apropriação colectivas.
Quanto ao método de tais pesquisas sempre através do diálogo, sublinho;
- Trabalho em equipa, em serena e confiante observação participante;
- Valorização do convívio cultural, partindo da memória e da experiência de vida de cada participante;
- Respeito pelas pessoas na sua própria voz, dando a maior atenção ao registo das expressões orais, atendendo-se ao espírito do lugar, às características de cada terra ou comunidade e ao entorno social, que enquadrem os testemunhos e as experiencias de vida;
- Pesquisas em fontes documentais que tratam a realidade histórica e cultural do território e das suas gentes.
Todos nós podemos ser intérpretes e divulgadores como cuidadores da memória se, de forma genuína, contribuirmos para salvaguardar os valores que são as bandeiras da nossa Identidade. Partilhar, celebrar e dialogar pelos veios da memória e da afectuosa emoção, é fundammental para a partilha da melhor herança em vida e do respeito e consideração para com os nossos idosos, afinal, a geração com mais experiência e mais sabedora. E todo este processo em sereno convívio e diálogo, enquanto há tempo, enquanto temos oportunidade de termos essa sábia geração entre nós.

18/12/2019
 

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