João Carlos Antunes
Apontamentos da Semana...
ENQUANTO SE DEGUSTA um bom bolo rei da nossa praça, que a tradição mesmo que recente é para cumprir, faz-se a antevisão do que poderá ser o ano de 2020, do que poderá esperar dos políticos e das suas circunstâncias. Sem lançar as cartas ou os búzios, mas refletindo sobre os sinais e as vibrações que se sentem neste ano bissexto, que já o meu pai considerava ser de azar. O mito de ser ano azarento terá explicação por ter mais um dia, necessário para acerto de contas entre o calendário Gregoriano e o tempo que leva o nosso sofrido planeta Terra a circundar o Sol, sendo por isso para muitos povos considerado assim pouco confiante por fugir à norma dos 365 dias. E tudo o que foge à norma gera insegurança. Mas insegurança não será o que sentirá o governo neste ano de 2020, porque por muito alarido que façam os partidos, em particular os que o apoiaram na anterior legislatura, ninguém vai querer comprar uma crise política que seria uma castanha quente na mão de quem a provocasse. Haverá por certo cedências na discussão do OE na especialidade. Até porque já houve ministros que o deram a entender, como seja um aumento extraordinário para as pensões mais baixas e um reforço sério do SNS, objetivo apontado pelo próprio primeiro ministro como prioritário. Que António Costa, a quem todos reconhecem um especial faro político, entendeu que foi o SNS um dos causadores da maioria absoluta se ter tornado numa miragem. O pior é que a falta de médicos e enfermeiros não se resolve com um estalar de dedos. Como vai acontecer, não faltarão muitos anos, com os professores. E ordenados mais atrativos para os médicos não será uma solução fácil de concretizar já que se tornaria numa autêntica caixa de Pandora. Veremos como se vai resolver a quadratura do circulo. Entretanto, pela disputa da liderança, muito se falará dos dois principais partidos à direita, pelo menos nos primeiros meses do ano. Do lado do CDS as perspetivas não serão muito animadoras já que não se vislumbram entre os candidatos claros traços de liderança que mobilizem as suas hostes e há até o risco de a médio prazo que de partido do táxi se transforme em partido da bicicleta, se os seus eleitores forem atraídos para projetos populistas e posicionados ainda mais à direita. Não seria bom, porque mantendo a matriz democrata-cristão, a sua vitalidade é importante para travar o avanço dessa direita radical já representada no Parlamento. No PSD, vai haver certamente uma segunda volta. E a escolha será feita essencialmente entre um aguerrido Luís Montenegro, que afasta desde já qualquer possibilidade de colaborar com um governo que é a encarnação do mal e um Rui Rio mais conciliador, que proclama mesmo ser capaz de colocar o interesse nacional acima do interesse partidário. É uma escolha importante para militantes e todos os portugueses que querem uma oposição forte e responsável, essencial para o jogo democrático. Entre ouro, mirra e incenso, que os leitores da Gazeta do Interior tenham umas festividades felizes.