Edição nº 1681 - 10 de março de 2021

José Dias Pires
QUEM NÃO SABE NADAR, DIFICILMENTE CHEGA À OUTRA MARGEM

O Governo português colocou em consulta pública, no passado dia 16 de fevereiro, a versão preliminar e resumida do Plano de Recuperação e Resiliência (nome pobre para algo bem mais vasto), no qual estipula 19 componentes, que integram por sua vez 36 reformas e 77 investimentos, estabelecidos com base no diagnóstico das necessidades e dos desafios que se nos apresentam.
Definem-se três dimensões estruturantes nas quais se deve apostar — a da resiliência (capacidade de superar e de recuperar de adversidades); a da transição climática (especialmente nas questões de contenção da expansão urbana desenfreada e na salvaguarda de espaços verdes que sejam cinturas naturais de antipoluição) e a da transição digital (infraestruturada com uma generalizada rede de fibra ótica e uma formação global que evite a infoexclusão), às quais serão alocados 13,9 mil milhões de euros em subvenções a fundo perdido das verbas europeias pós-crise.
Estão previstos investimentos de 833 milhões de euros para infraestruturas no sentido de reforçar a resiliência e a coesão territorial, aumentar a competitividade do tecido produtivo e contribuir para a redução dos custos de contexto, em particular no acesso aos mercados, e dos quais constam, nomeadamente, intervenções no Itinerário Complementar (IC) 31, entre Castelo Branco e Monfortinho (é claramente indispensável pensar no interior repetidamente esquecido com outras áreas e propostas de intervenção).
Também se prevê alocar avultados investimentos nas Áreas de Acolhimento Empresarial.
Esta audiência pública do documento é um desafio para todos os responsáveis governativos, tanto no âmbito central como local.
No caso particular da nossa autarquia, que nos deve especialmente interessar, importa que quem se afirma estruturadamente capaz (ainda antes do Plano existir, de iniciar, antecipando, um processo local de recuperação e resiliência) faça a melhor leitura do seu enquadramento neste plano e não deixe passar a oportunidade estratégica de se apresentar capacitado a propor projetos no âmbito da transição climática (retomar, também, de forma firme e definitiva, a defesa da barragem do Alvito) e da transição digital (afirmar Castelo Branco como uma cidade digital, identificando e solucionando alguns problemas que ainda existem).
Castelo Branco, dada a localização geográfica da cidade, do concelho e da região e pelas estruturas de que dispõe no apoio à inovação empresarial e com as infraestruturas do seu relevante parque industrial, está capacitado para se apresentar como uma autarquia que pode ser motor de uma zona económica diferenciada que seja determinante para o desenvolvimento do interior; como uma autarquia estrategicamente estruturada para responder, e acompanhar, as principais questões ambientais e da transição climática (como cidade verde) e com capacidade instalada física e técnico-científica para a transição digital empresarial, institucional e comunitária.
Felizmente, e apesar de todos os contratempos decorrentes de erros assumidos e enfrentados, o município, através do seu executivo e das suas organizações empresariais e institucionais (com muito trabalho realizado, tanto na proximidade com os munícipes, como na conjunção estratégica de interesses sociais e económicos) conseguiu ultrapassar outras complicadas situações conjunturais insistentemente pessoalizadas, por vezes deturpadas no contexto e intencionalmente manipuladas no enquadramento legal para terem hipotética relevância na comunicação social, mas que não fizeram caminho nem obtiveram na justiça os resultados que alguns dos seus promotores pretendiam.
Na verdade, agora que se aproxima a passos largos o ínicio de um novo ciclo em que a visão sustentada do futuro é primordial, todo o exercício político, nomeadamente o exercício político nas autarquias, deve estar sujeito a contraposições programáticas e a contraditório ideológico baseados em visão estratégica estruturada, inovadora e com horizontes no futuro e não em oportunismos conjunturais, palavrosos e sem outro fundamento que o de interesses de afirmação pessoal no presente. Os primeiros merecem o nosso respeito, consideração e incentivo pelo que representam de enriquecimento da política debatida antes das escolhas dos cidadãos, mas os últimos exigem uma pública e veemente reprovação pois não revelam consistência ideológica nem consciência moral e cívica.
Estamos seguros que, no tempo próprio a comunidade albicastrense saberá separar o trigo (de quem, apesar de alguns erros, cometidos, assumidos e pagos, lhe fez muito bem e quer melhorar, de forma inovadora, integrada e perspetivada em sustentabilidade o que tem realizado) do joio (dos que, não sendo impolutos, fingem pensar o interesse coletivo e perseguem única e exclusivamente objetivos pessoais e de pequenos — mas perigosos — interesses de grupo que apenas fingem preocupar-se com a comunidade que menosprezam e desconhecem).
Que os primeiros saibam enquadrar-se no plano que acompanhará o nosso próximo futuro, porque, aos segundos, não há Plano de Recuperação e Resiliência que lhes sirva de boia de salvamento para chegarem ao poder.
Quem não sabe nadar, dificilmente chega à outra margem.

10/03/2021
 

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