COM RECORDAÇÕES DE 47 ANOS
Manter viva a memória de Abril
O Centro de Cultura Contemporânea de Castelo Branco (CCCCB) recebeu no passado domingo, 25 de Abril, a tradicional sessão comemorativa da Revolução dos Cravos, da Assembleia Municipal de Castelo Branco, com o presidente deste órgão, Arnaldo Brás, a realçar que “muitos de vocês não sabem o que é estar privados de liberdade”, aos mais diversos níveis, tendo em consideração a idade de alguns elementos presentes na sessão.
Com os 47 anos do 25 de Abril como pano de fundo, Arnaldo Brás avançou que “festejamos a liberdade, mas também o desenvolvimento social e económico, a democracia”, para mais á frente referir que “estas comemorações decorrem em situação de crise pandémica, com efeitos devastadores na sociedade”.
Por outro lado, recordou também que “há 47 anos vivíamos a ditadura, vivemos a Revolução e passados dois anos, em 1976, foi aprovada a Constituição da República Portuguesa”.
Em dia de recordações, Francisco de Oliveira Martins, do CDS/PP, relembrou que “fui dos que também andou por África, mas tive a felicidade de regressar”, para defender que a democracia deve “ser vivida como um estado de alma. O 25 de Abril abriu novas expectativas, saibamos vivê-las”, deixando o desafio para “viver o presente e trabalhar por um futuro melhor”. Tudo isto, para falar na importância de “melhorar a vida neste Interior, que queremos cada vez mais próspero”.
Não deixou, no entanto, de tecer algumas críticas, nomeadamente ao sublinhar que “para haver democracia a justiça é importante e esta está doente”.
Para Carina Caetano, da Coligação Democrática Unitária (CDU), o 25 de Abril é um “dia para lembrar o fim da ditadura fascista”, pelo que “é importante lembra os valores de Abril”.
Carina Caetano realçou que “o poder local é parte integrante do regime democrático e do seu poder” e aproveitou para denunciar que passados estes anos “as regiões administrativas ainda estão por cumprir”.
Na sua intervenção frisou também que “comemorara Abril é fazer uma demonstração de confiança do futuro” e rematou com um tradicional “25 de Abril sempre. Fascismo nunca mais”.
As recordações foram também a base para o início da intervenção de José Ribeiro, do Bloco de Esquerda (BE), ao relembrar “os 48 anos de ditadura em que a resposta a quase tudo era não”, para depois destacar que “foi nessa madrugada (25 de Abril) que nos libertamos”.
José Ribeiro referiu que celebramos o 25 de Abril, dia em que acreditamos na mudança”, para afirmar que, “passados 47 anos, a verdade é que as desigualdades se acentuaram, a pobreza aumentou em muitos setores da população e a corrupção instalou-se impunemente”, entre outros. Críticas que não terminaram por aqui, pois apontou o dedo, ao avançar que “a cunha continua a ser a senha de acesso a muitas oportunidades. Temos a praga da violência doméstica. A balança da justiça continua sem aferição”.
Já para Eliseu Matos Pereira, do Partido Social Democrata (PSD), “as últimas quatro décadas representaram muitas conquistas. Mas não nos pudemos iludir, pois a democracia é uma construção política permanente”, acrescentando que “celebrar o 25 de Abril é uma luta por um Portugal mais justo e equilibrado”.
Eliseu Matos Pereira, que no contexto local, destacou que, “no nosso concelho, um estudo da Associação Comercial e Empresarial da Beira Baixa (ACICB), revelou que no pequeno comércio os apoios não têm sido suficientes. Impõe-se reforçar os apoios financeiros necessários”. E considerando que a Câmara de Castelo Branco agiu nesta área é da opinião que “o que foi feito até agora revela-se insuficiente”. Tudo isto, para mais à frente alertar ainda que na região “assistimos a um despovoamento galopante e preocupante”.
Pelo Partido Socialista (PS), Leopoldo Rodrigues, focado no 25 de Abril, realçou que “também em Castelo Branco tivemos homens que ajudaram a mudar o curso da história. O 25 de Abril trouxe uma esperança de vida melhor. Quase meio século passado de democracia podemos dizer que vivemos melhor”, considerando que “um dos principais motores do desenvolvimento do País foi o poder local”.
Leopoldo Rodrigues falou também nos autarcas pós 25 de Abril, com destaque para “Joaquim Morão que soube, como nenhum outro, interpretar as necessidades dos Albicastrenses” e, de caminho, recordou a obra feita em Castelo Branco pelo PS.
Para o socialista, “hoje, mais do que nunca, é preciso continuar a construir o 25 de Abril de 1974 com a maior transparência” e sublinhou que, entre outros, a Educação, o Sistema Nacional de Saúde (SNS), o poder local são importantes conquistas de Abril”.
Leopoldo Rodrigues defendeu, depois, que “cabe-nos, a todos, repensar o futuro de Castelo Branco. Abril abriu novas portas, mas continuamos a ter dificuldade em impor o espírito de Abril mais no Interior, que na Praça do Comércio, em Lisboa”, para concluir que “é preciso continuar a aprofundar os valores de Abril”.
Também para o presidente da Câmara de Castelo Branco, José Augusto Alves, “há 47 anos o País acordou para uma nova realidade. Pelas razões que todos conhecemos o medo era muito. Deve-se aos militares de Abril esse dia memorável”, de onde “as gerações mais velhas têm a obrigação de não deixar cair no esquecimento e lembrar as gerações mais novas”.
Por isso para José Augusto Alves é importante “homenagear os militares de Abril. Alguns deles da nossa Região”, referindo-se, concretamente a Ramalho Eanes e Vasco Lourenço.
O autarca, na sua intervenção não perdeu também a oportunidade de destacar que “a nossa cidade e o Concelho de hoje não tem nada a ver com o que era” e numa perspetiva global afirmou que nestes “47 anos nem tudo foi perfeito, mas são sempre opções”.
Em dia de recordações, as canções de Abril também foram recordadas com um momento musical com Amável Pires e a cultura continuou presente com uma visita à exposição Pontos.pt, patente no CCCCB.
António Tavares