João Carlos Antunes
Apontamentos da Semana...
DESDE HÁ UMA SEMANA O PSD tem finalmente o seu novo líder, escolhido pelos militantes em eleições diretas em finais de maio. Luís Montenegro (LM) só agora ocupou o seu lugar de líder do maior partido da oposição, pondo assim termo a um período penoso em que o partido se arrastou sob a batuta já muito pouco mobilizadora de Rui Rio. LM escolheu a equipa com que quer enfrentar estes próximos tempos, uma travessia no deserto que se não adivinha fácil. O Congresso até aconteceu numa altura favorável para a oposição, quando se estava ainda no olho do furacão provocado pelo ministro Pedro Nuno Santos na história do novo ou novos aeroportos para Lisboa, e o fecho de tantos serviços de urgência de obstetrícia a abrir telejornais. O que permitiu ao novo líder brilhar com duras críticas ao governo, nomeadamente na coordenação governamental, no combate à inflação e no SNS. E até já havia quem prognosticasse (com uma mãozinha de Marcelo) um governo a não cumprir a legislatura, hipótese que dá ânimo a dirigentes e militantes. Mas o Congresso, numa opinião quase unânime dos analistas políticos, foi um encontro morno e com manifesto pouco entusiasmo. Significativamente, o momento de maior fervor partidário foi o aplauso em pé à referência do nome de Pedro Passos Coelho. Ouviram-se muitas críticas de LM ao governo mas poucas propostas alternativas, im-portante para os eleitores entenderem se votar no PSD vai resolver os problemas que estão a entravar o desenvolvimento. A liderança de LM traz de novo para a linha da frente as figuras gradas do passismo, não se nota uma renovação de quadros e a atração de independentes, essenciais para que o partido possa capitalizar novas ideias e competências para enfrentar os problemas do País. E há ainda um pormenor, que nos tempos que correm não é tão pequeno como isso, da muito fraca representação de mulheres nos órgãos do partido (apenas 3, onde se inclui o nome de Maria Luís Albuquerque). Esta liderança tem um trabalho árduo pela frente, não é fácil dirigir um PSD que vive há tantos anos afastado do poder que alimenta as clientelas. E faz falta uma oposição, crítica mas construtiva e aberta a acordos para reformas estruturais sempre empurradas para tempos futuros, uma oposição a um governo que parece adormecido à sombra da maioria absoluta, e que reconquiste o eleitorado perdido para a IL e Chega. Não vai ser fácil, mas é importante para a nossa democracia com a alternância no poder na sua génese, que LM consiga este desiderato.