João Carlos Antunes
Apontamentos da Semana...
AINDA UMAS PALAVRAS sobre a demissão da ministra da Saúde, Marta Temido. Era evidente que a ministra estava a atravessar um período de cansaço, talvez até já aquilo que agora se designa de burnout. Foi talvez consequência disso o tropeção com queda mais ou menos aparatosa de Marta Temido à entrada do seu Ministério. Creio que todos os canais de televisão, mesmo possuindo as imagens, tiveram pudor em as pôr no ar. Todos? Não, houve um canal de esgoto a céu aberto que não se coibiu de as mostrar, quase como uma forma de humilhação tão ao seu gosto. Depois de ter mantido o SNS na linha da frente de combate à pandemia, combate onde os privados se envolveram de forma discreta, com uma eficácia e empenhamento de todos os funcionários, e técnicos de saúde que valeu mesmo elogios internacionais. Mas quando o lençol é curto alguma coisa fica de fora, e assim se viram tantos cidadãos com outras doenças não acompanhados, tantas cirurgias adiadas, que o acordar do pesadelo do COVID teria de dar nesta sensação de ineficácia de um sistema a precisar de reforma mas que continua a prestar uma assistência na saúde que, apesar das falhas inquestionáveis, satisfaz a maioria dos portugueses. Aceitando-se como justas as queixas dos utentes e em especial sobre os atrasos nas intervenções cirúrgicas e, agora bem mediatizada, as falhas nos serviços de urgência, algumas graves e com consequências. E não será esse o caso da grávida falecida durante a transferência de um hospital para outro da mesma área geográfica, uma situação dramática aproveitada de forma populista pelo maior partido da oposição e que viria a ser a gota de água na carreira ministerial de Marta Temido. De algumas coisas a ministra pode ser culpada, mas não deveria ser a única responsável. Não se compreende que numa situação de crise como esta, o investimento público no SNS tenha diminuído mais de 30 por cento, no primeiro semestre do ano. Com uma muito baixa taxa de execução orçamental, correndo-se mesmo o risco de se perderem verbas comunitárias. Serão problemas de planeamento e de execução do OE, com vários possíveis culpados. Não quero terminar sem deixar de lamentar o que escreveu Sandra Felgueiras, até esta semana diretora da revista Sábado e que agora transitou para um canal de televisão. Sandra Felgueiras não quis deixar de escrever o último editorial sem a marca da grosseria e deselegância ao apodar Marta Temido de ministra Barbie. Viesse de um homem e diríamos que era um caso clássico de misoginia. Assim, é simplesmente grosseria.