João Carlos Antunes
Apontamentos da Semana...
SETE MESES DEPOIS DO INÍCIO DE UMA GUERRA, que o agressor garantia ser breve e de vitória garantida, eis que parece que ela parece ter entrado numa nova fase. De como um país que teria no momento da agressão um exército mal equipado, consegue enfrentar e derrotar, recuperando a região estratégica de Kharkiv ocupada pelas tropas russas logo no início da agressão e faz entrar em debandada desordenada os soldados daquele que era considerado o segundo mais poderoso exército do mundo, deixando para trás muito equipamento militar e marcas de torturas e chacina. Claro que o milagre, para além de uma chefia militar e organização exemplares, de um heroísmo que vai beber a um patriotismo com que Putin não sonharia, o milagre resulta do apoio que o mundo ocidental, como um bloco, tem prestado à Ucrânia, fornecendo equipamento militar de última geração. Esta vitória do exército ucraniano não significa que a guerra estará para terminar em breve. Das conversas de trabalho diplomático que Guterres e vários chefes de governo europeu têm tido com Putin, parece que concluíram que ele continua em negação e não reconhece que a sua posição se está a tornar insustentável. Mas Putin está a perder em várias frentes. E não só na frente da guerra, onde parece ter querido responder à perda de território ocupado com ataques indiscriminados e covardes a alvos civis e estruturas que vão afetar a vida dos ucranianos civis no inverno que se aproxima. São ataques que revelam as fragilidades de um autocrata que também começa a enfrentar contestações internas de dirigentes políticos locais e que ameaça alastrar por entre a população que começa a duvidar da capacidade de Putin para dirigir aquela imensa nação. E finalmente na frente internacional, Putin descobre-se cada vez mais isolado como ficou agora claramente demonstrado na Cimeira da Organização para a Cooperação de Xangai, realizada em Samarcanda, Uzbequistão. Putin procurava o apoio incondicional da China e da Índia, mas o distanciamento foi evidente, ainda mais quando é cada vez maior a incerteza sobre o desfecho da guerra, e ninguém quer ficar associado a um derrotado. Por isso, Putin teve de reconhecer publicamente as “preocupações” e as “questões” de Xi Jinping sobre a guerra da Ucrânia, a quem agradeceu a posição “equilibrada”. E recebeu um recado bem enfatizado de que os seus amigos não aceitam de modo algum que ele pise a linha vermelha da utilização de armas nucleares ou químicas. Entretanto, as recentes vitórias do exército ucraniano moralizado sobre um exército muito pouco motivado e com muito equipamento destruído e de difícil reposição, já está a trazer algumas consequências como é a falta de soldados para substituir os que morreram, desertaram ou estão feridos. Não se adivinha um futuro risonho para o ditador russo, que por estas alturas deve estar a amaldiçoar o momento em que decidiu invadir a Ucrânia, fiado nas hesitações habituais da Comunidade Europeia e nos serviços secretos que lhe sopravam ao ouvido que os ucranianos estavam impacientes por abraçar os invasores/salvadores do seu país.