PRÉMIO INTERNACIONAL DE POESIA ANTÓNIO SALVADO – CIDADE DE CASTELO BRANCO
José Jorge Letria afirma que se tivesse um heterónimo seria Liberdade
José Jorge Letria recebeu, na passada quinta-feira, 2 de novembro, o primeiro prémio em língua portuguesa da terceira edição do Prémio Internacional de Poesia António Salvado – Cidade de Castelo Branco, pela obra Aviões com nomes de poetas. Recorde-se que a entrega de prémios desta edição do Prémio se realizou no dia 22 de julho, mas na ocasião José Jorge Letria não pode estar presente, por motivos de saúde, uma vez que tinha sido submetido a uma intervenção cirúrgica.
Na cerimónia, que decorreu no auditório do Centro de Cultura Contemporânea de Castelo Branco (CCCCB), com uma atuação do Orfeão de Castelo Branco, o presidente da Junta de Freguesia de Castelo Branco, José Dias Pires, começou por recordar “a relação antiga de José Jorge Letria com Castelo Branco”, ao relembrar que “antes do 25 de Abril, quase clandestinamente, participou em concertos de música de intervenção, concretamente na cave da Igreja de São José Operário, no Cansado, sendo que no final tinha a Polícia à sua espera”.
José Dias Pires destacou depois que a terceira edição do Prémio “teve o maior número de candidatos, pelo que tivemos de reduzir para 500 as obras em Português e em Castelhano aceites” e realçou também que “entre os participantes tivemos poetas de grande dimensão ibéricos, da América do Sul, do Brasil, de Angola, de Moçambique e de outros países se língua oficial portuguesa”.
Ainda focado no Prémio, José Dias Pires revelou que a escolha da obra de José Jorge Letria foi quase unânime, por parte do júri, que “para além da obra, no seu todo, destacou o poema de abertura, Aviões com nomes de poetas, que é o título do livro”.
A apresentação do vencedor foi da responsabilidade de Paulo Samuel, referindo-se-lhe como “o mais premiado escritor português, atualmente”, que conta com “duas centenas de títulos nos mais variados géneros”.
Paulo Samuel sublinhou que “o seu contributo é marcante na poesia portuguesa” e destacou também a “intervenção como jornalista, como cantautor, como homem de intervenção política, como político (vereador da Cultura da Câmara de Cascais durante oito anos)”, não deixando de relembrar que entre outros cargos que já desempenhou “é presidente da Sociedade Portuguesa de Autores (SPA), desde 2011, além de ter recebido grandes prémios”.
Por tudo isto Paulo Samuel defendeu que “urge ler a poesia de José Jorge Letria”.
José Jorge Letria que fez questão de apresentar “um obrigado por esta escolha, que muito me honra”, para, na primeira pessoa, recordar a sua relação com Castelo Branco, quando “aqui estive a cantar, antes do 25 de Abril”, recordando “a censura que sofri como jornalista, escritor, cantor”.
Pelo meio José Jorge Letria recordou também o seu primeiro livro de poesia, Mágoas Territoriais, de 1973, para mais à frente afirmar que “pensando no muito que já fui, se precisar de um heterónimo, pedia a palavra Liberdade, porque Liberdade sintetiza o que sou, o que penso. É este o heterónimo em que me revejo, se me permitem ter um”.
José Jorge Letria assegurou que “onde há poesia, há emoção, há sensibilidade”, para defender que “venha a poesia, para nos engrandecer e libertar” e ao voltar a falar em Castelo Branco, descreveu-a como “uma terra de afetos de emoções”, para recordar “António Salvado. Um grande homem, um grande poeta”, chamando a atenção para “a sua contribuição para a história da cultura em Portugal”.
António Salvado que também foi recordado pelo presidente da Câmara de Castelo Branco, Leopoldo Rodrigues, ao afirmar que, “hoje, não temos António Salvado fisicamente, mas continuamos a tê-lo com a sua obra, em conversas e em tertúlias. Continuamos a tê-lo, porque é uma figura da cidade, do Concelho, do País”. Tudo para avançar que “o Prémio já devia existir há mais tempo, porque ele há mais tempo que o merecia”.
Leopoldo Rodrigues, que em relação a José Jorge Letria afirmou que “é com enorme orgulho que o recebemos, pelo que representa na cultura portuguesa, pela irreverência, pelo entendimento que tem da Liberdade”.
José Jorge Letria vem
às comemorações do 25 de Abril
José Jorge Letria deslocar-se-á a Castelo Branco para participar nas comemorações dos 50 anos do 25 de Abril, no próximo ano.
Uma participação que foi garantida depois de Leopoldo Rodrigues lhe lançar “o desafio, para as comemorações dos 50 anos do 25 abril, para as quais estamos a iniciar o estudo do programa”.
Um repto que o autarca reforçou ao reiterar que “venha a Castelo Branco, para nos falar de poesia, da sua intervenção política e cultural e para nos falar de Liberdade”.
António Tavares