João Carlos Antunes
... ainda temos muito caminho para andar
Há 35 anos, a autarquia de Castelo Branco era chefiada por César Vila Franca, Portugal era governado por Aníbal Cavaco Silva e em Belém morava o Presidente Mário Soares. Portugal integrava desde 1986 a Comunidade Económica Europeia (CEE) e recebia muitos milhões dos Fundos Estruturais e de Coesão com o objetivo de aproximar os seus padrões de desenvolvimento à média registada no conjunto do contexto europeu.
Foi neste contexto de otimismo, modernização e crescimento económico que nasce a Gazeta do Interior, do entusiasmo e o saber fazer jornalismo de Afonso Camões e Joaquim Duarte junto com o grupo de amigos unidos por cumplicidades várias. Era um projeto ambicioso, servido por uma redação e corpo de colaboradores jovens e entusiastas, a que logo aderiu um bom número de empresários, intelectuais e políticos da região. Na altura vivia-se uma certa euforia económica em resultado da ainda recente adesão à CEE com grandes investimentos estruturais e o tecido empresarial ainda era muito marcado pelo espírito de comunidade regional.
O surgimento da Gazeta do Interior foi uma pedrada no charco e desde então, ao longo destes 35 anos, fomos vivendo momentos de sucesso, como a atribuição do prestigiado prémio Gazeta para Imprensa Regional, atribuído em 1994 pelo Clube de Jornalistas, ou a participação como parceiro e acionista do semanário JÁ, liderado por Miguel Portas e fomos inovadores na atribuição anual de Prémios Gazeta a individualidades que se distinguiram em diversas áreas na nossa região, como agora somos parceiros da Associação de Atletismo de Castelo Branco, dando o nome ao Prémio Gazeta de Atletismo. Mas não escondemos que os últimos anos têm sido difíceis, para nós como para a Imprensa em geral, veja-se a greve de jornalistas que aconteceu por estes dias, a primeira desde há décadas. Mas parafraseando Mark Twain, diríamos que as notícias da morte do jornal são manifestamente exageradas. De 1989 até hoje o Mundo mudou muito e muito rapidamente, e as tecnologias de informação vieram alterar profundamente a maneira de produzir, publicar e ler a informação.
E é claro que é muito difícil a sobrevivência de um pequeno jornal, sem um grupo económico sólido a suportar os custos cada vez mais elevados e receitas publicitárias a diminuírem, numa época em que as novas gerações já não compram jornais, habituados a ter a informação instantânea de forma gratuita em suporte digital, ou a serem atraídos pelo canto das sereias da desinformação nas redes sociais. Passeiem pelas nossas ruas e vejam se encontram meia dúzia de passantes com jornal debaixo do braço. Em Portugal, ao contrário de países de democracia bem estabelecida, o Estado não considera necessário, para bem da democracia (com cidadãos a acederem a informação credível e plural), criar incentivos de apoio à Imprensa escrita, nomeadamente à Imprensa local e regional. Aliás, o que fez foi terminar com o sistema de porte pago, essencial para estes jornais que têm como assinantes a grande maioria dos seus leitores.
Mas é a resiliência, persistência e amor a este jornal da parte de quem aqui trabalha que nos permite ter confiança no futuro da Gazeta. Com os melhores colaboradores da cultura regional e nacional que tornam a terceira página um caso sério na Imprensa regional. Com colaboradores de uma qualidade que já extravasa a terceira página e nos deliciam com crónicas de fino humor e traço literário. Com a fidelidade e carinho dos nossos leitores, e número crescente de novos assinantes, acreditamos, por tudo isto, que depois de 35 anos de jornalismo sempre do lado da democracia liberal e pluralista, ainda há muito caminho para andar. A TODOS os que contribuem para levar cada semana a Gazeta do Interior aos seus leitores, o nosso sincero e beirão Bem-Haja!
João Carlos Antunes