João Carlos Antunes
Apontamentos da Semana...
NA SEMANA PASSADA, os meus apontamentos apontavam para a preocupação com a segurança física das crianças, que em algumas situações poderia ser considerada obsessiva. E quando refiro a segurança física, obviamente que o faço dentro de balizas comportamentais, autonomia e autoconfiança que não ponham em risco a sua vida.
Algumas vezes preocupamo-nos com os arranhões e esfoladelas resultantes de atividades e brincadeiras sociais ao ar livre, mas não ligamos tanto quanto deveríamos ao tempo que as nossas crianças, em casa, passam imersas em ecrãs. Que algumas vezes, por comodismo, se estimula mesmo. Vai-se jantar fora? Pois o tablet que não falte para manter o miúdo sossegado à mesa. É possível que a refeição em casa tenha o mesmo cenário. Esta é a geração da internet e das redes sociais, que em termos de atração já ultrapassou decididamente os média clássicos, como a televisão e as publicações em papel. E as mudanças de hábitos de consumo digital são tão rápidas, que uma rede social largos anos dominante como é (foi?) o Facebook, já é desprezada por esta geração que a substituiu pelo TikTok. Mas voltando à segurança das crianças, haverá quem respire de alívio e durma tranquilo por saber os filhos entre paredes, longe dos perigos do mundo lá fora. Será mesmo assim? Por iliteracia digital ou por comodismo, não se faz a monitorização da utilização do telemóvel atribuído demasiado cedo aos filhos (a pretexto da segurança da criança). Passam horas na rede social ou em sítios que, mesmo com conteúdos infantis, os torna dependentes da tecnologia, lhes retira oportunidades de socialização, viver de forma saudável a infância e interfere no rendimento escolar. A falta de diálogo em casa que resulta muitas vezes em isolamento no seu espaço privado, afastado do núcleo familiar, pode redundar em alterações de comportamento graves. Todos recordam o caso ainda muito recente do jovem que, a partir do seu quarto, influenciava outros jovens a comportamentos violentos e aberrantes. Os pais podem alegar que não sabiam. Mas, também à luz da justiça, são corresponsáveis pelas consequências dramáticas do comportamento do filho menor a cujos sinais deveriam ter dado muito mais atenção. Mas não, o miúdo até era sossegado, nem saía de casa, estava em segurança…
E dos Estados Unidos vêm relatos de um fenómeno entre crianças de nove, dez anos, que passam horas diárias frente ao espelho a maquilhar-se, a usar cremes para rugas, contra o acne mesmo que não tenha, para amaciar a pele e a partilhar tudo isto através dos vídeos no TikTok com milhões de seguidores. A obsessão das crianças com a imagem, personificada por aquilo a que chamam de Sephora Kids (referência a uma conhecida loja de cosmética), levanta preocupações sobre os efeitos do marketing de beleza e da cultura dos media sociais no seu desenvolvimento já que vai afetar certamente o seu crescimento emocional onde a autoestima se alimenta pelo número de seguidores na rede social. Infelizmente é um fenómeno que já ultrapassou as fronteiras dos Estados Unidos e que também já acontece em Portugal. Vivemos num mundo global onde temos de proteger, educar e orientar as nossas crianças. Para bem delas e de todos nós. Pelo nosso futuro.