Edição nº 1853 - 17 de julho de 2024

Maria de Lurdes Gouveia Barata
O PLANETA AZUL

Estamos em meados de Julho, um dos meses mais quentes do ano, com o calor a apertar, sobretudo em certas zonas e a cidade de Castelo Branco é uma delas. Já fiz num antigo artigo a citação que vou repetir: Castelo Branco só tem três estações: o Verão, o Inverno e o caminho de ferro. Com as alterações climáticas a coisa piora e refiro-me sobretudo ao calor. Vamo-nos defendendo como sempre com um recolhimento em casa (Em Julho abafadiço fica a abelha no cortiço), ou até utilizando o que a tecnologia neste tempo concede, o ar condicionado poluente, ou procurando a zona costeira com mais frescura que acena com um acréscimo: a beleza insuperável do mar.
Quase todos (penso que é quase todos, porque só não vê quem não quer) temos consciência de que o ser humano faz um ataque ao planeta, que lhe dá guarida. No entanto, acção adequada não se concretiza, com a ganância instalada, que se revela estúpida. Lembro-me de um vídeo que há uns tempos me impressionou e intensificou a relatividade da pequenez que somos: a Terra é um pontinho luminoso na grandeza do universo. Vista de mais perto, mas do espaço, tem a pujança de esplendor de Planeta Azul. A predominância de água na sua superfície, com mares e oceanos, água imensa e reflectora da luz do sol figuram-no nessa cor, embora haja outros factores a considerar. É só lembrarmos 71% dessa superfície com água líquida. Da «Ode ao Espaço Marinho» (Novas Odes Elementares) de Pablo Neruda, registo um brevíssimo excerto: «(…) o mar / como um cavalo / desbocado / ao vento / cavalo azul, cavalo / de cabeleira branca, / sempre / a galopar / o mar (…).
Apenas 26% da água no Planeta Azul é doce. Os contributos dos homens que o habitam e fazem alterar as características do clima estão a demonstrar a consequência desastrosa da falta de água potável. Saint-Exupéry tem uma reflexão: «A terra ensina-nos mais acerca de nós próprios do que todos os livros. Porque ela nos resiste». E acrescento: nos tempos actuais essa resistência tornou-se guerra ofensiva desencadeada pelo próprio Planeta Azul e nem assim os seres humanos parecem aprender. Yuri Gagarin (1934-1968), cosmonauta soviético, foi o primeiro homem a viajar pela órbita da Terra numa nave espacial. Em 1961, a bordo da Vostok 1, diz a famosa frase: “A Terra é azul!”. O AZUL da Água, cor simbólica da tranquilidade e do infinito, a Água, fonte de vida e continuidade. Para além da sobrevivência humana, a água oferece a Beleza, que se entranha num âmbito de poeticidade e nesta se enleia. A emoção do Belo expressa-se bem na «Ode à Água» (Odes) de Miguel Torga:

Ninguém ouve a canção, mas o ribeiro canta!
Canta porque um alegre deus o acompanha!
Quantos mais tombos, mais a voz levanta!
Canta porque vem limpo da montanha!

Espelho do céu, é quanto mais partido
Que mais imagens tem da grande altura.
E quebra-se a cantar, enternecido
De regar a paisagem de frescura.

Água impoluta da nascente,
És a pura poesia
Que se dá presente
Às arestas da humana penedia…

Um canto à Terra («Terra» - Sonetos) de Francisco Bingre faz-nos meditar num tempo de bênçãos, com que somos obsequiados no Planeta Azul num cantinho de nome Portugal. Eis um excerto (1ª quadra e 1º terceto): «Ó Terra, amável mãe da Natureza! / Fecunda em produções de imensos entes, / Criadora das próvidas sementes / Que abastam toda a tua redondeza! // Tu rasgas do teu corpo as grossas veias / E as cristalinas fontes de água pura / Tens, para a nossa sede, sempre cheias.»
Todavia, para reflectirmos ainda sobre a ambivalência do elemento água como força destruidora, vai tudo por água abaixo em inundações provocadas por chuvas intensas com a demolição que a enorme força da água tumultuosa consegue. Para onde irão as fontes de água pura com o mau diagnóstico do futuro devido às alterações climáticas? O Sul da Europa e a Península Ibérica serão das regiões mais afectadas, segundo os cientistas. E falo agora de Portugal (não sendo indiferente ao resto do mundo), em que já se constata um impacto visível, conferindo o aumento na frequência e intensidade de secas, de inundações, de cheias, de ondas de calor, de incêndios florestais, a erosão e o galgamento do mar que vai roubando terra nas zonas costeiras. Investiguei que nos últimos anos Portugal perdeu 15 Km2 de território. Dou um exemplo: o Portinho da Arrábida perdeu 60% do areal nos últimos 50 anos. E há mais exemplos para quem tiver curiosidade de saber.
Quem pode ficar despreocupado, se não alarmado?
Ah, Planeta Azul aninhado em azul do firmamento, no infinito do cosmo, onde esvoaçam libélulas azuis sobre lagos azuis, sobre flores azuis que matizam o verde da Natureza, tão rica em todas as cores. Ah, Planeta Azul que se entranha numa grandiosidade do Belo, inspirador de poetas e pintores e outras artes que o talento humano soube talhar. E penso nos nenúfares azuis de Monet… no azul da perenidade. E penso no meu (NOSSO) PLANETA AZUL…

17/07/2024
 

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